À conversa com os Donaranha

Donaranha é uma banda portuense, de indie rock, composta por Leonor Cunha (guitarra), Luca Lencart (voz), João Valente (baixo) e António Machado (bateria). A Engenharia Rádio esteve à conversa com eles.

 

ER: Como é que começou a história dos donaranha?

João Valente (JV): Eu acho que para a primeira parte tem de ser o Luca a falar, porque é um membro fundador, depois eu posso apanhar a segunda parte, quando eu e o António nos juntámos.

Luca Lencart (LL): Começou num concerto de uma escola de música onde eu e a Leonor andámos, em que estava muito nervoso, e a Leonor perguntou-me se me podia dar um abraço e que tinha cantado muito bem – foi assim que nos conhecemos. Eu pedi-lhe ajuda para uma música e foi assim que começámos a fazer música juntos.

JV: Depois da Leonor e o Luca começarem o projeto, lembro-me bem de ver a Pele Nossa (1º single) a ser lançada, e a primeira reação foi “não gostei” (risos). Tive imensa inveja, porque a música era fantástica, e a partir daí comecei a seguir os donaranha. Uma amiga minha numas férias viu um story da Leonor e do Luca a pedirem um baterista para uma música e, como sabes, sou baixista, e toco pessimamente bateria, mas ofereci-me para ajudar no que podia. No próprio dia disse que o meu melhor amigo era baterista e que poderiam sair desse ensaio com baixista e baterista.

António Machado (AM): Eu recebi um telefonema do João a dizer que tinha os Donaranha em casa e para ir lá tocar bateria, e foi das poucas vezes que me “pus lá em 10 minutos” (risos)

 

ER: E daí começaram logo a compor ou tiveram alguma adaptação?

AM: Nós demos um concerto “assim pequeno” em Novembro e ensaiámos músicas que já existiam do repertório dos donaranha e, depois desse concerto, percebemos que havia uma necessidade de representar o novo coletivo da banda e a vontade de todos – começámos a escrever e daí saiu este EP, o “Donaranha”, de 6 músicas que lançámos há pouco tempo, mas já estamos de volta a essas primeiras músicas.

JV: Quando o António e eu nos juntámos à banda, o Luca e a Leonor já tinham escrito juntos o álbum que vamos começar a gravar. Fomos percebendo que havia “química” entre nós: começámos a criar e, quando já tínhamos um conjunto de músicas feitas pelos 4, a Leonor sugeriu lançar um EP de apresentação da banda, em que cada música teria um toque de cada um de nós – a última música, “Pontapé de saída”, veio de um ensaio onde eu não me calo sobre o Boavista; a “Música do vento” e a “Sem pressão” é a donaranha da Leonor e do Luca. Há mais duas músicas engraçadas, a “Rádio noir”, que sai de uma melodia do meu baixo e a “Corta mocas” que é uma melodia na guitarra feita pelo António. Este EP representa o que é donaranha como conjunto de 4 membros. Quem melhor pode falar sobre o álbum pré EP é o Luca.

LL: Eu mandava coisas à Leonor e ela a mim, tentávamos fazer alguma coisa com riffs da Leonor, mas agora é muito mais fácil fazer música eu acho, é isso.

 

ER: Tocaram noutra questão que eu queria falar sobre o EP, sobre o qual já explicaram a ideia e as músicas em si mas queria perguntar, isto é mais a nível individual, sobre quais são as vossas inspirações musicais.

JV: Vou ser um bocado “advogado do diabo”, mas a Leonor não estando cá vai encurtar um bocado a entrevista, porque ela tem um gosto musical espetacular, extremamente diversificado, portanto tocando a Leonor, a lista é interminável, ela busca um bocado a todo o lado, é sem dúvida uma das artistas mais diversificadas e versáteis.

AM: Eu ouço um pouco de tudo, no meu dia a dia o que ouço mais anda a volta do punk, hardcore e post punk, mas o que eu tento trazer para aqui é mais o indie e o shoegaze, aliás a “Corta mocas” era suposta ser uma música de shoegaze, um género que já ouço há muito tempo, e o que se transcreve mais no que eu trago para os donaranha.

LL: A minha maior inspiração é o Luís Severo, onde me inspirei para escrever em português, como também Regina Spektor, Fiona Apple, músicas onde as letras são super importantes.

JV: O meu gosto musical no dia a dia não tem que ver com o que é donaranha, sendo que comecei a tocar baixo por causa dos Red Hot Chili Peppers – nessa onda -, Alice in Chains, Jane’s Adiction, rock alternativo “puro e duro”. Depois de ter ouvido a “Pele Nossa”, a minha grande inspiração para os donaranha é mesmo os donaranha, sendo que me permitiu crescer como baixista, e onde posso explorar mais a parte melódica do que rítmica. Nesse sentido as minhas inspirações são bandas do conjunto Cuca Monga (Ganso, Capitão Fausto, entre outras).

 

ER: Queria saber o que vocês sentem no concertos como donaranha, o que sentem com o público e a sua reação.

LL: Nós só demos 2 concertos todos juntos, um primeiro e o último na Socorro, sendo que o primeiro foi muito experimental – a sala não tinha bom som, mas foi divertido. O da Socorro foi “muito giro”, quase chorei a meio, porque estavam todos a cantar a “Corta mocas” connosco.

AM: Na minha curta experiência com donaranha, fiquei muito surpreendido pela positiva pela reação do público. Estava curioso para saber a reação às nossas mudanças de energia, como com a “Pontapé de saída”, mas acho que correu bem e que o pessoal aderiu à nossa vibe.

JV: O que tenho a dizer e que não se explica, é que lançar um EP no dia 13 e no dia 29 o público saber as letras de cor, donaranha destaca-se no carácter emocional por trás das músicas, as pessoas partilham as emoções que tentamos transmitir. Foi uma experiência inesquecível na Socorro, obrigado ao público por isso.

 

ER: Outra curiosidade que pergunto a toda a gente, já não é tão especifico nos donaranha, mas qual é a vossa opinião do papel da arte, neste caso da música, no mundo e na sociedade, e se esse impacto era mais forte antigamente 

AM: Super importante, a arte e a música podem mudar o mundo. O que sinto com donaranha é uma sensação de gratidão porque a nossa música toca uma parte da sociedade que é muito oprimido, e graças ao Luca pelas letras,  faz com que as nossas músicas se relacionem com muitas pessoas. Fico muito grato porque sinto que estamos a fazer alguma diferença nesse sentido.

LL: Respondendo à pergunta, eu faço tudo a pensar em arte, estive em artes no secundário e fiz um ano de arte plásticas, desenho, pinto, e acho que todos usufruímos da arte. Muitos não têm noção do quanto esta impacta. Não sei se havia mais reconhecimento  por artistas, mas havia muito menos do que atualmente, o que faz com que estes sejam menos valorizados, mas espero que toda gente valorize, pois qualquer um pode ser artista, em algum tipo de arte.

JV: Não é a primeira vez que me fazem esta pergunta, mas citando Wiston Churchill na segunda guerra mundial, quando Inglaterra teve de fazer cortes financeiros para combater os fascistas, queixaram-se que este o fez em todas as áreas menos na da cultura, e ele respondeu que se não lutamos pela cultura, não lutamos por nada. A arte é a melhor representação do que somos como ser humanos, principalmente em tempos com cada vez mais tecnologia. A arte é mais acessível do que antigamente, e concordo plenamente com o Luca – todos nós temos uma veia artística, temos é de ouvi-la atentamente e ver a melhor forma de a expressar, pois o que a arte tem de bom é que é muito abrangente e passa por muitas formas, mas que permite partilhar os sentimentos complexos que temos.

 

ER: Isso também se sente nos vossos temas e nas letras, o que disseram é o reflexo das vossas próprias músicas. A última pergunta acabaram já por relevar, mas é sobre o vosso futuro, qual é o futuro dos donaranha?

AM: Não posso ainda falar dos concertos que vamos ter, mas vamos ter vários depois do verão, e queremos ver se saímos um bocado do Porto, para um futuro próximo é isso. Estamos a trabalhar no nosso primeiro álbum, no qual estamos a voltar atrás, porque é um álbum que já estava, na sua maioria, escrito para guitarra e voz pela Leonor e o Luca.

LL: Mas vamos escrever mais.

AM: Sim, vamos construir à volta disso e são músicas lindíssimas, estou muito entusiasmado.

JV: Sem querer ter um discurso político, o futuro dos donaranha é um futuro muito promissor, pelo feedback que tivemos na socorro, que foi fantástico, e que só nos deu mais vontade de dar concertos e partilhar as músicas ao vivo, cara a cara. No que toca ao álbum, foi o que o António disse, um músico que se preze não é bom com datas, mas amanhã começa o trabalho para atacar o álbum, e estamos todos motivados para continuar a trabalhar nele.

 

ER: Acho que do que eu tinha pensado é mais ao menos isto, não sei se querem acrescentar algo, mas da minha parte está tudo.

JV: Vou ser eu o chato, queria agradecer a ti pela entrevista, e a quem tiver oportunidade de a ler, continuem a nos ouvir, e decorem as letras para cantarmos todos juntos nos concertos. Queria ainda convidar as pessoas a continuarem a procurar artistas emergentes como nós e música portuguesa, que é muito boa.

 

Agradeço aos donaranha pela disponibilidade e simpatia na entrevista. Podem ouvir aqui o EP de estreia deles, e estejam atentos às redes sociais – Instagram, deles para novidades.

 

Rodrigo Freitas

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