Primavera Sound Porto 2024 – 1ºdia
Entre 6 e 8 de junho, o parque da cidade voltou a vestir-se a rigor para receber o Primavera Sound Porto. À semelhança da edição de 2023, a disposição dos palcos voltou a ser a mesma – com o Palco Porto junto à Estrada da Circunvalação -, bem como as previsões meteorológicas a que já nos habituaram (ora não estivessemos no Porto!).
Ana Lua Caiano
Ana Lua Caiano deu as boas-vindas a todos os festivaleiros no palco Super Bock, o palco que se encontra nas profundezas do parque da cidade, com um concerto refrescante: um verdadeiro one man(women) show, onde acordes ritmados com melodias singulares cativaram todos que estavam a assistir. A artista lisboeta está a ser uma revelação, e a Engenharia Rádio já teve a oportunidade de a entrevistar (ler aqui).
Neste concerto, partilhou canções do seu primeiro álbum “Vou ficar neste quadrado” (2024), onde “Deixem o morto morrer”; “O bicho anda aí” – dedicada aos tempos pandémicos, e “Vou ficar neste quadrado”, tiveram um sabor especial.
Esta é, certamente, uma das artistas que irá deixar a sua marca na música portuguesa, bem como no mundo.
Não poderíamos ter começado de melhor forma!
Royel Otis
Logo de seguida, a dupla australiana Royel Otis ocupou o palco Vodafone. Apesar de ainda ser cedo naquele dia de festival e, para muita gente, ainda se considerar “horário laboral”, o recinto estava já muito movimentado comparativamente ao que se observava em anos anteriores. Este foi um dos factos contribuintes para o grande concerto que se sucedeu.
O público rendeu-se aos artistas de imediato e dançou-se desde a frontline até ao topo da colina que caracteriza este palco. Foram tocadas músicas dos seus dois álbuns, “Sofa Kings (2023) e “PRATTS & PAIN” (2024), e ainda houve tempo para a sua versão de “Murder on The Dancefloor”.
Blonde Redhead
Para recuperar as energias gastas no concerto de Royel Otis, fez-se o clássico reconhecimento do espaço e um breve passeio por todos os stands, para ver as novidades do recinto deste ano. Acabámos por fazer a “piscina” até ao palco Super Bock para assitir ao concerto dos Blond Redhead.
A banda nova iorquina deu um bom concerto, ainda que não tenha atingido o limiar de memorável. Ainda assim, na colina do anfiteatro natural que o parque da cidade é, assistiu-se a uma das melhores características deste festival: sentados confortavelmente na relva, foi possível ver quem por lá passava e confirmar que, de facto, o Primavera Sound, é um festival para todos (sabe bem estar de volta!).
PJ Harvey
Já o sol derretia no céu, pintando um dos fins de tarde mais bonitos durante os dias de Primavera Sound; o relógio marcava as 20:45 quando a cantora-compositora britânica, PJ Harvey, começou a transbordar magia pela estrada da circunvalação.
É irrefutável a qualidade técnica, musical e onírica deste espetáculo pensado do início ao fim. Há quem tenha cantado todas canções, do início ao fim, usando o ar todo dos pulmões, enquanto outros aguardavam os fenómenos tik-tok que se seguiam. A canção “Down the water” do álbum “To bring you my love” (1995) encantou ainda mais este fim de tarde épico e foi, seguramente, um dos melhores concertos da noite.
Mitski
Quando Mitski ocupou o Palco Vodafone, já a noite reinava no céu – o que não impediu a artista de reinar no Parque da Cidade do Porto. O espaço estava tão repleto de pessoas que, mesmo do topo da colina, era difícil conseguir avistar o que se passava uns metros abaixo: um cenário bastante simples, composto apenas por uma plataforma giratória no centro do palco, uma cadeira e um jogo de luzes.
Da simplicidade, Mitski criou a sua realidade paralela e levou os seus fãs para lá. Estes, rendidos, revisitaram praticamente todos os álbuns da cantora e compositora norte-americana através de uma setlist onde deu mais ênfase ao seu disco mais recente “The Land Is Inospitable And So Are We” (2023), sem esquecer “Laurel Hell” (2022), “Be the Cowboy” (2018), “Puberty 2” (2016) e “Bury Me At Makeout Creek” (2014).
Infelizmente, essa não foi a experiência para todas as pessoas presentes no público – alguns esperaram (sentados) por “My Love Mine All Mine”, após a qual abandonaram para o concerto seguinte. Ficamos a refletir se este é o “preço a pagar” por ter um hit famoso no tik-tok, e se não é um preço demasiado injusto e imerecido para a arte de Mitski.
Após uma maré consideravel de pessoas ter abandonado o concerto – rumo ao palco principal, onde SZA iria atuar – o ambiente tornou-se mais leve, visível, e com quem queria ver Mitski, realmente.
SZA
Dirigimo-nos novamente para o palco Porto, onde SZA ia atuar dentro de instantes. Assim que lá chegamos, o hype era elevado, pessoas ao nosso lado questionavam repetidamente “onde é que ela está?”. Quando, por fim, apareceu, vinha acompanhada de um cenário maximalista (contrastando com o cenário de Mitski), uma turma de bailarinas, um farol e até uma wrecking ball. Toda a sua energia estava em palco, o espetáculo (digno de um sensação pop, apesar da sua música ser mais uma mistura de R&B, Hip Hop, Pop e Soul) deu-se para alegria do público que cantava e gritava em êxtase.
A única coisa que ficou aquém, que não teve o ênfase que lhe era devido, foi mesmo a música. Numa tentativa de manter o público sempre entretido, sem qualquer momento aborrecido, SZA distraiu-se da vulnerabilidade, da sensibilidade e da calma que algumas das suas músicas transparecem quando não se ouvem ao vivo, perdendo, assim, a sua singularidade.
Ana Frango Elétrico
Já de madrugada, após a decepção “SZA” e ouvidos a zumbir, era necessária uma pausa para um refresco musical e, por isso, fomos diretas ao palco Vodafone onde a mestre de cerimónias, Ana Frango Elétrico, iria dar início à bonita festa que se seguiu.
Ainda que com alguns percalços técnicos (ora não estivéssemos no palco Vodafone), a musicalidade singular da artista paulista não deixou ninguém indiferente, criando uma explosão de emoções para quem assistia. Tocou, essencialmente, canções do seu mais recente álbum “Me chama de gato que eu sou sua” (2023) terminando com a inconfundível “Electric fish”. Escusado será escrever que terminámos o primeiro dia em beleza.
Amanhã há mais!
Maria Alves da Silva
Mariana Varejão de Magalhães
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