Opinião: MGMT – Loss of Life

A carreira do duo norte-americano MGMT é uma das mais polarizadoras no meio indie. Após o lançamento do seu álbum de estreia, Oracular Spectacular (2007), as expectativas de quem vibrou com os singles ‘Kids’ ou ‘Time To Pretend’ tiveram que ser constantemente reavaliadas.

Os álbuns subsequentes a este magnus opus, distanciaram-se do electro-pop radiofónico que os catapultou para o estrelato, mas ainda assim foram capazes de manter uma base de fãs intrigados com narrativas cinemáticas como ‘Alien Days’ e epopeias sonoras como ‘Siberian Breaks’. No entanto, foi apenas com o som sintético de Little Dark Age (2018) que Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser conseguiram recuperar a atenção plena do seu público, que no novo álbum volta a desorientar-se com mais uma mudança radical.

Género: Neo-Psychedelia, Psychedelic Folk, Indie Rock
Data de Lançamento: 23/02/2024 

 

Se Little Dark Age soa como uma compilação de grandes sucessos, Loss of Life soa como um arquivo perdido, cujo encanto está parcialmente na sua rareza e autenticidade. O título, a atmosfera e o tom melancólico de guitarras acústicas, não sugerem que este seja um álbum optimista, como anunciado pelo duo. Em vez disso, implicam que o optimismo reside no resultado de constante reflexão e autodescoberta, e não em um episódio fugaz de euforia.

‘Nothing Changes’ usa O Mito de Sísifo, do escritor e filósofo Albert Camus, para navegar a frustração de não poder sair de determinada situação apesar de incontáveis esforços. A faixa ‘People in the Streets’ carrega uma atmosfera de ansiedade que culmina num momento epifânico, ajudando assim a enfrentar um grande medo. Ainda em nota acústica e emoções agudas, ‘I Wish I Was Joking’ rumina sobre o impacto do uso de drogas com os versos “Aqui está a verdade sobre as drogas / Elas vão afundar a sua mente e roubar os seus amigos.” Um tópico que o duo nunca tinha explorado desta maneira, apesar de tais estimulantes sempre terem feito parte do seu processo criativo.

Loss of Life também brilha nos seus momentos mais descontraídos, onde o conceito do álbum é visto de forma mais ostensiva. A pop oitentista ‘Dancing in Babylon’, com a participação de Christine and the Queens, é toda uma carta de amor que soa tão nostálgica quanto ‘Time After Time’ de Cindy Lauper ou ‘I Wanna Dance With Somebody’ de Whitney Houston. Enquanto as simplistas ‘Nothing to Declare’ e ‘Mother Nature’ nutrem esperança e curiosidade com sensibilidades pop e progressões de acordes cósmicas, que adicionam mais uma camada de dimensão ao álbum.

Em contraste com a abordagem experimental que sempre caracterizou o duo, Loss of Life revela-se surpreendentemente contido e acessível – o que o torna aventureiro dentro da sua discografia. E apesar da possível confusão temática nas primeiras audições, sua aura divagadora captura um retrato realista da vida: um hibernar e despertar em loop.

 

Faixas favoritas: ‘Nothing Changes’, ‘Nothing to Declare’, ‘Dancing in Babylon (feat. Christine and the Queens)’

 

Ruben António

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