O Teatro TicTac apresenta: “LOUCULOS”
Estreou na passada sexta-feira, dia 2, a peça teatral “LOUCULOS” com encenação de Tó Maia. Esta é uma adaptação de “O Julgamento de Lúculo” de Bertolt Brecht, levada a cabo pelo Teatro Amador de Ciências, o TicTac.
Inspirada na figura histórica de um general romano, a ação inicia-se no momento da morte do general Lúculo, em que a sua vida repleta de espantosas vitórias militares é aclamada por toda a Roma. Lúculo chega, então, ao Reino das Sombras rodeado de um enorme séquito e cheio de orgulho e soberba mas depressa se encontra sozinho diante do Supremo Tribunal do Reino e apercebe-se de um facto surpreendente: no mundo dos mortos, todos desconhecem o seu nome. Ainda mais surpreendentes são os jurados dos quais o destino da sua alma depende: um lavrador, um escravo (outrora professor), uma peixeira, um padeiro e uma cortesã.
Com o intuito de dar a conhecer os seus feitos heróicos e, assim, garantir a sua entrada no Reino dos Bem-Aventurados, Lúculo chama para testemunhas as figuras esculpidas no friso triunfal do seu túmulo que, perante a ordem do Juíz dos Mortos, se humanizam. É do testemunho de todas estas personagens, que sentiram diretamente as consequências das guerras lideradas por Lúculo, que depende o veredicto final. Poderá a alma de Lúculo ser salva ou gritarão os Juízes “Ao nada com ele!”?
Originalmente escrita como uma peça para teatro radiofónico em 1939, esta foi transformada, anos mais tarde, pelo próprio autor e pelo compositor Paul Dessau, para ser exibida como uma ópera. Quando questionado sobre a existência de algum desafio em adaptar o texto a uma peça teatral, o encenador Tó Maia nega qualquer obstáculo, realçando a qualidade do autor e a intemporalidade da obra como os principais motivos que o levaram a querer levar esta peça a cena.
“A questão da guerra tem muitos desafios. Para já, toda a dimensão trágica e toda a miséria e destruição que trás consigo. E falo, sobretudo, da questão humana. Mas também há outro lado, o lado mais perverso, que é as riquezas.”
E desengane-se quem pense que a escolha da peça surgiu apenas como um comentário à atual situação política da Europa. Embora admita que o tema se tornou especialmente relevante nos dias de hoje, o encenador salienta a sua intenção de encenar esta peça em 2020, altura em que a pandemia lhe estragou os planos. Não só não era possível ensaiar presencialmente, como viu o seu elenco drasticamente reduzido.
Este ano voltou a ter um elenco numeroso, o que lhe permitiu levar esta peça a cena. No entanto, isto acabava por representar um desafio, devido ao reduzido espaço disponível para a encenação da mesma. Assim, é importante salientar a forma criativa como este espaço foi rearranjado, permitindo a existência de dois palcos principais e um pequeno corredor de comunicação entre eles, ladeado pelos lugares da plateia. Enquanto as personagens ora avançavam, ora recuavam entre os dois palcos, o público encontrava-se bastante próximo do centro da ação e de todo o elenco.
“Para mim não há teatro amador naquele sentido pejorativo, as exigências têm de ser as mesmas. (…) Temos que ir mais além porque é de arte que estamos a falar.”
E todos os atores fizeram jus às palavras do encenador Tó Maia nessa noite de estreia, presenteando o público com performances que comandavam sem esforço a atenção dos espectadores e nos transportavam para dentro da própria história.
A contribuir para esta total imersão no espetáculo estavam outros elementos da produção como, por exemplo, o guarda-roupa. À conversa com um membro da direcção do TicTac, David Carvalho, foi possível ficar a conhecer a sua origem.
“Pegamos na roupa que o TicTac já tinha guardada no seu espólio e fizemos um workshop de transformação desses figurinos. Cortamos, voltamos a costurar tudo, transformamos completamente o nosso guarda-roupa.”
Este exercício de criatividade deu origem a um guarda-roupa colorido e visualmente apelativo. Era ainda notória uma atenção minuciosa aos detalhes, para que as personagens que necessitavam de ter um maior destaque, tivessem no seu vestuário algum elemento diferenciador.
Assim, a encenação de “LOUCULOS” é o culminar de vários meses de trabalho por parte dos estudantes e ex-estudantes que pertencem ao TicTac. Tal como explica o seu presidente, Pedro Paupério, a preparação para a encenação de uma peça inicia-se sempre com um workshop de Iniciação ao Teatro, aberto a todos os que se queiram juntar ao TicTac. A partir daí, é apenas necessário mostrar dedicação e deixar o gosto pelo teatro desenvolver-se ao mesmo tempo que se formam novas amizades. Nas palavras de Pedro Paupério:
“O que nós queremos é que mais pessoas venham para o TicTac, reconheçam o nome e que se apaixonem, como eu me apaixonei, pelo projeto. Porque, uma vez entrando, nós sentimo-nos mesmo em família.”
Se ficaste curioso sobre o trabalho do TicTac podes saber mais sobre o projeto nas suas redes sociais. E, claro, ainda vais a tempo de reservar o teu bilhete para as sessões de “LOUCULOS” nos próximos dias 9,10 e 11 de Julho.
Boas idas ao teatro!
Mariana Gil
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