Fantasporto 2022: A Festa do Cinema
Realizou-se, entre os dias 1 e 10 de abril, a 42ª edição do Fantasporto, Festival Internacional de Cinema do Porto. Depois de ocupar, em 2021, o Hard Club, o festival de cinema regressou ao teatro Rivoli para a sua última edição neste espaço. Ao longo de 10 dias, passaram pelo Porto filmes de 28 países, assim como diversos atores e realizadores, formando uma celebração do cinema fantástico.
No regresso ao teatro Rivoli, espaço ao qual o Fantasporto chama de casa desde 1998, a atmosfera de celebração e o sentido de comunidade fizeram-se sentir desde o primeiro dia. Ainda que o cinema seja o principal objeto de interesse do festival, o espaço tomou uma grande importância na edição de 2022: por um lado, refletia um regresso à normalidade, depois da paragem no Hard Club em 2021; por outro, era possível sentir a aura da despedida, uma vez que, ao que tudo indica, a edição de 2023 realizar-se-á no renovado Cinema Batalha. Tal como nos últimos anos, o festival de cinema contou com uma seleção de cinema asiático (o prémio Orient Express), de animação (Anima-te), de cinema português e da Semana dos Realizadores, para além da principal seleção de filmes de fantasia e ficção científica (prémio de Cinema Fantástico). Houve ainda espaço para curtas-metragens e para recordar alguns clássicos do cinema, como Blade Runner de Ridley Scott ou All About Eve. De entre os filmes em competição, 26 foram exibidos em antestreia mundial e europeia. Para além de filmes, os visitantes do Fantasporto poderam visitar uma exposição de cartazes das várias edições do festival, assim como assistir à apresentação de vários livros.
Durante os dias do Fantasporto, a sala do Grande Auditório do Rivoli ia enchendo cada vez mais à medida que a noite se aproximava. Ainda que o Fantasporto seja uma parte essencial da cultura cinematográfica portuense, grande parte do público vinha de fora de Portugal. As legendas disponíveis, tanto em Português como em Inglês, permitiam abrir as sessões a vários públicos. Mesmo depois do final dos filmes, a maioria da plateia permanecia no átrio ou no exterior do Rivoli, aproveitando para trocar opiniões sobre os filmes em exibição. Isto, juntamente com uma postura relaxada, com muitos risos e comentários, contribuiu para que se formasse um sentido de comunidade ao longo dos 10 dias de festival. Embora houvesse sessões desde as 16h00, a maior parte do público optou por assistir aos filmes exibidos depois das 21h00. Foi também nestas sessões que foram exibidos os filmes que mais furor fizeram junto da plateia. De entre estes, destacou-se Follow Her, realizado pela americana Sylvia Caminer e escrito e protagonizado por Dani Barker. Ambas estiveram presentes no Rivoli, naquela que foi a antestreia mundial da produção. Antes do início da exibição, realçaram a importância do Fantasporto para além fronteiras, considerando-o como um dos mais importantes festivais de cinema do género em todo o mundo. Follow Her acabou por vencer o prémio de Melhor Filme, assim como o de Melhor Atriz (Dani Barker) e o Prémio do Público. O filme narra a história de uma influencer que se voluntaria para fazer trabalhos pouco usuais, enquanto os filma, em segredo e anonimamente. A sua luta por sucesso nas redes sociais é posta à prova quando a identidade de um dos seus clientes é inadvertidamente revelada num dos vídeos.
Com uma receção mais heterogénea, Barbarians, de Charles Dorfman, com Iwan Rheon e Catalina Sandino Moredo, venceu o Prémio Especial do Júri. O prémio de Melhor Filme da Semana dos Realizadores foi para a produção galega Jacinto. Este filme segue a chegada de duas amigas vindas da Suécia a uma aldeia da Galiza. Enquanto membros de uma banda de heavy metal, chocam com os costumes da pacata aldeia. Perturbam particularmente Jacinto, um homem com deficiência mental e que acredita que as novas habitantes são o diabo em pessoa. A exibição de Jacinto contou com a presença do realizador, Javi Camino, e de dois atores: Corinna Rautenberg e Juanma Buiturón. No seu discurso, recordaram Pedro Brandariz Gómez, o ator principal e intérprete de Jacinto, falecido a 22 de fevereiro. Pedro Gómez e Juanma Buiturón venceram também o prémio de Melhor Ator, ex-aequo, na seleção Semana dos Realizadores.
Os restantes premiados na principal seleção foram The Exorcism of God, vencedor de Melhor Realização (Alejandro Hidalgo), Lázlo Attila Horváth, Melhor Ator por Soulpark, The House, que conquistou o Melhor Argumento e o Prémio da Crítica, e Annular Eclipse, premiado pelos Melhores Efeitos Especiais. O filme japonês The Good Father mereceu uma menção especial do júri, tenho o prémio de Melhor Curta-Metragem ido para Fledge. Na seleção Semana dos Realizadores, Saralish venceu o Prémio Especial do Júri, assim como o prémio de Melhor Atriz (Atena Agha Aliyan). O prémio de Melhor Argumento foi para Eviction, uma produção húngara, enquanto que Yoon Jong-Seok foi conciderado o melhor realizador, por Confession. Misericórdia, de Gonçalo Loureiro, venceu o prémio de Melhor Filme na seleção Cinema Português, tendo Dilúvio e Fruta Tocada por Falta de Jardineiro recebido menções especiais. Escape from Mogadishu foi considerado o melhor filme da seleção Orient Express e Baby Assassins venceu o Prémio Especial do Júri na mesma categoria.
Depois do regresso e do final do Fantasporto na forma à qual estamos habituados, resta olhar para 2023 e para a mudança para um outro local emblemático para o cinema no Porto, o renovado Cinema Batalha. Esperamos que a nova sala saiba receber os amantes do cinema da cidade e de fora tão bem quanto o Rivoli recebeu em 2022.
Se quiseres descobrir mais e ouvir algumas opiniões sobre os filmes em exibição na 42ª edição do Fantasporto, recomendamos-te o episódio do Desliguem os Telemóveis dedicado ao festival.
Marco Teixeira e Zé Pedro Araújo
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