“A neve nas montanhas estava a começar a derreter e Bunny já tinha morrido há várias semanas quando tomámos consciência da gravidade da nossa situação.”

É assim que começa o primeiro romance de Donna Tartt, lançando o leitor para o meio de um mistério peculiar. Publicado em 1992 e recebido de imediato com enorme sucesso, A História Secreta continua a cativar novas audiências e há quem o aponte como a origem da estética Dark Academia, que ganhou popularidade nas redes sociais durante a pandemia.

Tendo como pano de fundo a universidade fictícia de Hampden, A História Secreta centra-se nos únicos de seis estudantes de estudos clássicos, que vivem estranhamente afastados do resto da comunidade académica. É pelos olhos do narrador Richard Papen, recém-chegado a Hampden e um novo membro deste grupo restrito, que as restantes personagens – Charles, Francis, Henry, Camilla e Bunny– se dão a conhecer e que são lentamente revelados os motivos que levaram ao assassinato Bunny pelos outros cinco.

  Á medida que as páginas avançam, não são só as personagens que vão revelando outras facetas, mas o próprio estilo da narrativa parece transformar-se, desafiando uma categorização. No início, o romance subverte as expectativas ao revelar de imediato a identidade dos assassinos e da vítima. No entanto, o livro não tem dificuldade em cativar a atenção do leitor, utilizando como fonte de suspense os motivos e circunstancias que levaram ao homicídio. Depois de esclarecidas estas questões, o foco da narrativa altera-se novamente e, à moda de um thriller psicológico, centra-se nas consequências que este acontecimento central teve em cada uma das personagens.

A estrutura do enredo in media res é apenas uma das marcas da influência da cultura e literatura grega no romance. Apesar de fazer referências diretas ao trabalho de autores clássicos, Donna Tartt deixa principalmente que a sua influência se manifeste de formas mais subtis, como na atmosfera sombria que se mantém durante todo o enredo ou mitificação dos protagonistas. Estes atraem o leitor pela sua sofisticação e inteligência, tornando difícil reconciliar a sua aparência quase divina com a monstruosidade dos seus atos.

Já na segunda parte do livro há momentos em que este parece prolongar-se de forma um pouco desnecessária. No entanto, mesmo nos seus pontos mais baixos, continua a manter uma aura de mistério que incentiva a sua leitura até ao fim.

Na sua essência, A História Secreta explora o que acontece a quem, num esforço para se tornar sobre-humano acaba por se tornar inumano.

Para aguçar ainda mais a tua curiosidade podes ouvir um pequeno excerto do prólogo no fim do artigo.

Boas leituras!

Mariana Gil