Alumni a dar música – The FEUP Alumni Playlist #18 – Tiago Ferradosa

Alumni a dar música” é uma rubrica musical em formato Podcast do Gabinete Alumni da Talent Unit da FEUP em parceria com a Engenharia Rádio que traz todos os meses as escolhas musicais dos nossos Alumni. Na 18ª edição do “Alumni a dar música” temos a escolha musical da alumnus Tiago Ferradosa.

 

Mestrado integrado em Engenharia Civil (2012)

Programa Doutoral em Engenharia Civil (2018)

Investigador Doutorado na FEUP e no CIIMAR, Professor Convidado e Avaliador Externo na Universidade de Stavanger na Noruega

 

A poesia das palavras na playlist de Tiago Ferradosa

 

“De uma forma ou de outra todos vivemos a música de um jeito muito próprio, afinal de contas, é de arte que falamos. E sendo arte, tem em si o condão de nos despertar sentimentos e vivências que são acima de tudo pessoais e que resultam em grande medida das experiências que vamos tendo.

Sempre fui um amante de palavras e por isso a música sempre me cativou mais pela letra. Sendo que esta ganha asas em cima de sons que, sublimemente, atribuem às ideias uma outra escala quer em beleza quer na forma como nos impactam. Assim, as músicas deste alinhamento não são mais do que um conjunto de narrativas, lições e pensamentos que de algum modo me marcaram, nesse seu jeito próprio e indissociável dos diversos momentos do meu percurso.

Nesta rúbrica, que nos faz olhar sobre o nosso passado, não poderia deixar de iniciar este alinhamento com a música “As regras da sensatez”, interpretada por Rui Veloso e escrita por Carlos Tê. Além de ter uma melodia ímpar, a letra da música encerra em si lições para quem, a reboque da nostalgia, gosta de olhar o passado. É uma música de que me lembro sempre que nos momentos mais introspetivos procuro avaliar o percurso que vou fazendo. Recorda-nos que mesmo que determinadas memórias nos aqueçam o coração ou nos levem para o abismo de coisas que queríamos esquecer, o que importa é o caminho que temos pela frente. Olhar o passado sem esquecer do futuro parece quase uma contradição, mas é condição essencial para “fazermos a vida vivendo”.

Nesses fogazes momentos em que procuramos “viver”, surgem-nos os desafios, as dificuldades e os dias menos risonhos e solarengos. No entanto, é perante estes que germinam as sementes das vitórias mais saborosas. A música “Don’t stop me know”, dos Queen, é sem dúvida uma excelente banda sonora para as comemorações mais intensas destas lutas. Ouvi-la é como beber um copo de Whisky, engolir em seco, e relançar a motivação para a ribalta do enredo a que gostamos de chamar dia-a-dia.

O enredo, tal como seria de esperar, vai-se desenrolando e nesse ato contínuo, a vida presenteia-nos com situações, locais e experiências, mas acima de tudo com pessoas. Pessoas que mudam a nossa vida, pessoas que tiram o melhor de nós e que contribuem para uma vivência muito mais cheia. Sempre fui um privilegiado nas pessoas que tenho conhecido. De entre todas elas, tive a sorte de o destino me ter cruzado com a minha esposa, Joana. Hoje com um filho que é a luz dos nossos olhos, o Lourenço, a minha vida tornou-se incomensuravelmente mais rica. A minha esposa e eu temos uma música que de facto apreciamos muito e da qual nos “apropriámos” quando tínhamos uns joviais 15 anos: “Princesa” de Boss AC, esta é uma música minha, nossa e agora do nosso filho também. Um belo mote para trazer tranquilidade à espuma dos dias.

Agora que sou pai, a espuma dos dias tem ficado mais doce e abastada de momentos deliciosos de aprendizagem e de novas formas de ver e de viver a vida. Nos poucos segundos de descanso e pausa que a vida nos dá, procuro gastá-los a observar o meu filho com quem aprendo e me deleito em pequenas grandes doses de felicidade. E assim, um homem que sempre viveu em aceleração crescente num contrarrelógio diário, deseja agora mais do que nunca que esse mesmo tempo abrande, que fique lento, que exista vagarosamente…Na verdade, peço até que pare e espere, para que os momentos que tenho com o Lourenço sejam eternos, quem sabe ao som de “O tempo vai esperar” d’Os Quatro e meia.

A tranquilidade do tempo que espera, coloca-se frequentemente em contraponto com a algazarra da miríade de tarefas profissionais que hoje vou desempenhando. Nas muitas tarefas que surgem, quase sempre a um ritmo alucinante e com prazos apertados, a música “Circo Zen” dos Azeitonas, não deixa de ser um apanágio da rapidez com que os dias correm. Uma música cuja letra nos recorda que por vezes, as empreitadas a que nos propomos são feitas pelo exército de um homem só, que somos nós. Quando esse exército não leva a sua missão a cabo, é o Mundo que nos rodeia que perde mais um bocadinho. Já dizia o poeta, “Põe tudo o que és no mínimo que fazes”, certamente que os que te rodeiam beneficiam sempre desse mínimo, nem que seja feito ao som do Circo Zen.

No final da azáfama do Circo Zen, sobra o regozijo da missão cumprida e a leveza nos ombros de quem descansa antes de entrar na próxima aventura. Momentos de leveza e uma “softness” característica do descanso do guerreiro com fundinho musical dos Toploader, “Dancing in Moonlight”. Uma música que poderia ser banda sonora de um qualquer Verão das minhas 32 Primaveras.

Entre azáfamas e descansos, verões e primaveras, nem todos os dias são solarengos e nesses mesmos dias em que o retorno a casa é o momento do aconchego e do abrigo dos duros Invernos, houve sempre duas músicas que me acompanharam: “Georgia” do inconfundível Ray Charles e “How can you mend a broken heart” do génio Al Green.

Poderia ter colocado aqui inúmeras outras músicas, que de um modo ou de outro são a banda sonora dos meus dias e que são igualmente parte do meu repertório musical favorito. No entanto, não podia deixar de terminar esta playlist, com uma música e um poema que sempre pautaram os momentos que considero mais decisivos no meu percurso. “Senta-te aí” dos Rio Grande, traduz em larga medida as infindas horas de conversa com o meu pai e que sem eu saber viriam a moldar em grande medida os valores que hoje tenho e considero inalienáveis. Valores esses que estabelecem o plano comum de todos os outros momentos e músicas que descrevi anteriormente. Por fim, o poema “My Wage”, de Jessie B. Rittenhouse, que se lê sobre a melodia que cada um de nós interpreta na sua própria vida e que ouço com regularidade sempre que procuro novos rumos e novos caminhos. Um poema que nos desperta para efemeridade da vida, mas que nos recorda que esta pode ser muito mais do que apenas efémera, se estivermos dispostos a pagar o preço que ela nos exige.”

 

 

PLAYLIST de Tiago Ferradosa

  1. Rui Veloso – As regras da sensatez
  2. Queen – Don’t stop me know
  3. Boss AC – Princesa
  4. Os Quatro e meia – O tempo vai esperar
  5. Azeitonas – Circo Zen
  6. Toploader – Dancing in Moonlight
  7. Ray Charles – Georgia
  8. Al Green – How can you mend a broken heart
  9. Rio Grande – Senta-te aí

 

Poema

My Wage” de Jessie B. Rittenhouse

 

Gabinete Alumni da Talent Unit da FEUP em parceria com a Engenharia Rádio.

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