Super Bowl LV: A Décima de Brady

Se os responsáveis pela Eurovisão pudessem organizar a final da UEFA Champions League, obteríamos o equivalente europeu à final da National Football League. Após vários casos de COVID-19 entre os atletas no início da temporada, temia-se que não fosse possível terminar a época na data pretendida. Apesar dos percalços, o Super Bowl chegou-nos, como é costume, no primeiro domingo de Fevereiro.

Brady ergue o sétimo troféu Vince Lombardi da sua carreira. O primeiro sem os New England Patriots. (Fotografia de Mike Ehrmann/Getty Images)

Homenagem aos Profissionais de Saúde

Numa decisão algo surpreendente, as autoridades locais autorizaram a presença de 22 mil espectadores nas bancadas, aproximadamente um terço da capacidade do Raymond James Stadium. Por outro lado, a maioria dos jogos da época regular decorreram à porta fechada, devido à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus. Apesar disso, esta foi a assistência mais baixa de sempre numa final da NFL. Da totalidade dos bilhetes disponíveis, 7500 foram oferecidos a profissionais de saúde de vários hospitais dos Estados Unidos da América. É importante referir que estes já se encontravam vacinados contra a COVID-19. O gesto, que pretendia ser uma homenagem ao esforço de todos os trabalhadores da área da saúde, rapidamente levantou várias críticas. Nomeadamente o facto de a melhor homenagem possível ser não colocar milhares de vidas em risco.

Os Finalistas

De um lado, os Tampa Bay Buccaneers, comandados por Tom Brady. A equipa da Florida tornou-se no primeiro finalista a ser anfitrião de uma final da NFL, ao fim de 55 edições. O quarterback de 43 anos atingiu no passado dia 7 a sua 10ª final, numa longa carreira de 20 anos. Após ter trocado os New England Patriots, equipa pela qual chegou nove vezes à final e conquistou seis títulos, pelos Buccaneers, poucos esperavam a proeza de chegar a um novo Super Bowl. Brady tornou-se o atleta mais velho a jogar um Super Bowl, superando Matt Stover, que alinhou na final pelos Indianapolis Colts aos 42 anos.

Do outro lado estavam os Kansas City Chiefs, campeões em 2020, cuja figura maior é Patrick Mahomes, um jovem quarterback de 25 anos. Foi o Jogador Mais Valioso da final do ano passado, na qual os Chiefs bateram os San Francisco 49ers, após uma recuperação notável no último quarto da partida. Mahomes assinou recentemente o maior contrato desportivo de sempre. Receberá 503 milhões de dólares ao longo dos próximos 10 anos. Após uma época regular excelente, os Chiefs eram tidos como favoritos a levantar o troféu pela segunda vez consecutiva. Um feito alcançado pela última vez em 2004 e 2005, curiosamente pelos Patriots de Tom Brady.

O Jogo

Durante o encontro, os Buccaneers não deram qualquer hipótese aos Chiefs. Os campeões da época passada foram derrotados por uns expressivos 31-9. A equipa de Kansas, que possuía o melhor registo ofensivo da época regular, não conseguiu um único ensaio durante o jogo, ficando limitados a três field goals.

Brady e Rob Gronkowski começaram a fazer estragos cedo. O tight end saiu da reforma para voltar a jogar com Brady e mostrou ainda estar à altura. A antiga dupla dos Patriots foi responsável pelos dois primeiros touchdowns da equipa da Florida. Antes do intervalo, Antonio Brown faz o terceiro touchdown, garantindo uma vantagem de 21-6.

Na segunda metade, Mahomes ainda mostrou o porquê de ser visto por muitos como o melhor jogador da NFL. Foram dois os passes extraordinários nos últimos instantes da partida. No entanto, os seus colegas não foram capazes de os aproveitar, algo que aconteceu durante todo o encontro. A defesa dos Buccaneers foi implacável e extremamente competente durante os 48 minutos de jogo, pressionando os Chiefs a fazerem uma exibição bastante fraca.

The Weeknd e os Anúncios

O cantor canadiano The Weeknd sucedeu a Shakira e Jennifer Lopez, atuando na final do Super Bowl no passado domingo. Devido à pandemia, o público não teve permissão para descer ao relvado e assistir ao concerto com a proximidade desejada. As limitações logísticas não impediram que o concerto de 12 minutos fosse um espetáculo visualmente apelativo. O artista garante ter investido cerca de 7 milhões de dólares do seu próprio bolso no espetáculo. Apesar do investimento, a sua atuação registou a pior audiência dos últimos 12 anos.

The Weeknd durante a sua atuação no Super Bowl. (Fotografia de Mark J. Rebilas, USA TODAY SPORTS)

Do ponto de vista publicitário, o Super Bowl LV foi um sucesso tremendo. Um estudo da empresa Kantar estima receitas recorde de 545 milhões de dólares. Um crescimento de 22% relativamente ao ano passado. Analisando estes valores de outra perspetiva, podemos concluir que 30 segundos de publicidade custavam aos anunciantes 5,6 milhões de dólares.

Super Bowl em Portugal

Se a NBA cimentou o seu lugar em Portugal (e na Europa) nos anos 90, pelas mãos dos Bulls de Michael Jordan, a NFL ainda não teve uma figura de proa capaz de cativar os fãs europeus. O nome, que insiste em rivalizar com o do desporto rei, será um dos fatores que gera algum desconforto. Apesar disso, entre as camadas mais jovens, o futebol americano tem conquistado mais adeptos. Dificilmente atingirá o mediatismo do futebol, mas é um fenómeno com um potencial de crescimento muito interessante.

 

Francisco Caetano

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