Opinião: Ensino à distância – futura bonança?

A recente evolução pandémica trouxe de arrasto as rígidas medidas do confinamento; entre elas, o retorno do ensino à distância foi das que mais águas agitou. Resta saber se estas águas agitadas levarão à bonança ou a um afogamento sem medida.

Em primeira instância, é de extrema importância mencionar a total necessidade, face às contingências atuais, da realização do ensino à distância. Todavia, é ainda de relevo analisar as vantagens e desvantagens desta modalidade de ensino, com foco no ensino superior.

Ensino à distância

Somam-se muitas vantagens ao ensino à distância – suficientes, inclusive, para que muitos alunos afirmem preferir esta modalidade. Os motivos prendem-se, sobretudo, com a maior autonomia que as ferramentas desta modalidade proporcionam. Em particular, a gravação e disponibilização de aulas on-line, que permitem aos alunos rever as temáticas as vezes necessárias até à compreensão, potencia uma maior flexibilidade no estudo. Isto é, a metodologia proporciona uma maior liberdade quer na aprendizagem, em que o ritmo por eles definido está ajustado às suas capacidades, quer na vida pessoal, em que definem os seus próprios horários, o que gera maior satisfação pessoal e profissional. Acrescenta-se, ainda, outro fator relevante, a diminuição do desconforto associado às deslocações.

Porém, as desvantagens do ensino à distância também se acumulam, sendo uma das mais gritantes a ausência das aulas relativas às componentes práticas – princípio basilar de muito cursos – e cujos efeitos da ausência a longo prazo são ainda uma incógnita. Avoluma-se ainda a tangível diminuição da comunicação, quer entre professores e alunos, quer entre os próprios alunos. Um último fator, a outra face da moeda do incremento da autonomia, leva muito alunos a anuir que a sua produtividade e capacidade de atenção diminui. Isto porque nem todos reúnem em suas casas e espaços de trabalho o ambiente ou, em outros tantos casos, os recursos mais adequados para a realização destas tarefas.  Assim, apesar dos esforços por parte das universidades e instituições para colmatar estas faltas, infere-se que esta modalidade de ensino agrava ainda mais as desigualdades já patentes à vida de tantos estudantes.

Ensino Presencial

Apesar de ser uma discussão relativamente recente em Portugal,  outros países têm demonstrado maior interesse nas vertentes de ensino à distância e, como tal, investigado o seu efeito com mais recorrência. Num estudo de 2010, da autoria de Mickey Shachar (Trident University International) e Yoram Neumann (United States University), conclui-se que, apesar do estigma associado ao ensino à distância, em 70% dos casos os resultados dos alunos em cursos ministrados à distância superaram os dos alunos em cursos com ensino presencial. Os seus autores afirmam “O paradigma da superioridade do ensino presencial relativamente ao ensino à distância foi negado com sucesso. O ensino à distância está a tornar-se na ‹‹ciência normal›› (Kuhn, 1962).”

As opiniões e conclusões dividem-se. Todavia, creio que existem dois grandes pontos a merecer destaque. Com um avanço tecnológico cada vez mais manifesto, é normal (e positivo) que também ele ocupe lugar no campo da educação, em particular sob a forma do ensino à distância. Portanto, é crucial que mesmo após o fim de todas as restrições impostas pela pandemia, os novos métodos adquiridos que provaram êxito não sejam esquecidos e tomem lugar no quotidiano da educação.

Em outra nota, infere-se que, quando tão facilmente substituído por ensino à distância (com alguns, inclusive, a preferi-lo), o próprio ensino presencial anseia reforma e novos rumos. Talvez sejam os novos contributos da tecnologia a guiá-lo, finalmente, à bonança.

 

Mariana M. Martins

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