Opinião: Submarine (2010), de Richard Ayoade
Submarine (2010), de Richard Ayoade, quando reduzido a um género, poderia, facilmente, ser fechado na gaveta das irremediáveis comédias românticas adolescentes e por lá ficar bastante tempo. Mas a representação honesta das personagens e as suas motivações, o humor surpreendente e mordaz, bem como as astutas e cuidadas opções visuais deixam a gaveta permanentemente entreaberta.
Oliver Tate (Craig Roberts) é um adolescente inquietado e inquietante. Analítico e quase poético, divide os seus esforços entre dois campos. Por um lado, ocupam-no as investidas no heterodoxo namoro com Jordana (Yasmin Paige), uma piromaníaca de invariável casaco vermelho. Simultaneamente, dedica-se à monotorização constante e subsequente tentativa de salvamento do casamento dos pais, um biólogo marinho deprimido (Noah Taylor) e uma administrativa cansada e “neurótica” (Sally Hawkins), como o próprio Oliver aponta, que se deixa encantar por Graham (Paddy Considine), vizinho e seu velho amor.
Primeiramente, o prólogo explora a dualidade entre a fantasia e a realidade, com Oliver a imaginar o seu próprio funeral como um evento trágico de dimensão nacional, quando é, na realidade, um jovem pouco popular.
Seguem-se 3 capítulos em que a narração sofre uma gradual perda de fulgor, que se restaura apenas no epílogo. O interesse por Jordana não tem génese numa troca de olhares cliché ou num toque de mãos a que já nos habituaram. Num movimento sóbrio, Oliver reconhece que Jordana é, das raparigas disponíveis, a que se encontra ao seu alcance. Para atingir o seu objetivo, está disposto a “abandonar princípios”, tal como tornar-se bully. Porém, o amor que por ela edifica é genuíno e comovente. Com o casamento dos pais, o mesmo se verifica; o que o move é a necessidade de “evitar mudanças”, um desejo de controlar todos os fatores da sua vida, calculista. Esta análise hiperbólica conduz Oliver por decisões que o privam da relação com Jordana. E é aqui que percebe que as condições mutaram e também ele o terá de fazer.
Assim, numa reflexão final, no epílogo, de coração partido, Oliver reconhece o seu amadurecimento (“I don’t know if I’ve come of age, but I’m certainly older now.”) e, inerentemente, nele brota a consciência de que, por mais único que se considere, permanece semelhante a tantos outros no mundo.
Ainda assim, poderíamos dizer que o argumento em muito se aproxima das típicas comédias românticas – e não estaríamos errados. Todavia, a perspicácia na direção de Richard Ayoade (com um plano visual que capta o idealista e confiante espírito adolescente), a exímia banda sonora (da autoria de Alex Turner, vocalista dos Arctic Monkeys) e a surpreendente e refrescante comicidade (mesmo quando inesperada), tornam o filme ágil e verosímil. Por mais que o universo de Oliver seja marcado pela fantasia e confiança desmedidas, também o da maioria dos adolescentes acaba por assim o ser.
Mariana M. Martins
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