Nove tradições de Natal
O Natal é definido como a época da família, das prendas, das decorações e das canções especiais. Mas no fundo, podemos encontrar tudo isso noutras festividades como nos aniversários ou nas romarias populares. É incrível como as tradições e os pratos típicos são diferentes em cada pontinho do mundo e como dentro de cada família as tradições passam de geração em geração, quase imutáveis. Hoje, membros da Engenharia Rádio destacam nove das suas tradições de Natal. Será que também elas fazem parte da tua tradição?
Os Bolinhos de Abóbora
No que diz respeito ao Natal, as nossas melhores memórias estão, na maior parte dos casos, ligadas à ceia e ao almoço passados na companhia da família e dos amigos. E nada faz reviver essas memórias como o cheiro e o sabor dos doces natalícios. Toda a gente tem uma sobremesa preferida e a minha sempre foram bolinhos de abóbora. Estão, para mim, de tal maneira associados a esta altura do ano, que fiquei surpreendida quando percebi que não eram presença habitual na mesa de Natal de muitas pessoas. Os bolos de abóbora (ou broinhas de abóbora, como também são conhecidos), são um doce tradicional da região da Figueira da Foz. Não sendo eu natural desta região, esta sobremesa chegou até mim como uma herança familiar: apesar de ter vivido em vários sítios ao longo da sua vida, a minha avó levou sempre consigo a receita deste doce, típico da cidade onde nasceu. Foi assim que esta receita passou para a mãos da minha mãe e um dia passará para as minhas.
Mariana Gil
A Roupa Velha
Há quem diga que o bacalhau é a estrela de qualquer mesa no natal. Na minha família, o pódio é ocupado pelo bacalhau, mas em conjunto com as batatas e as couves cozidas no dia 24 de dezembro. Roupa velha! Assim chamam a uma subestimada e desajeitada combinação de ingredientes que resulta numa verdadeira iguaria!
“Velha” talvez por ser um reaproveitamento das sobras do dia anterior ou quem sabe ainda porque estamos a terminar o ano (e mais novos não ficamos), mas esta “roupa” veste-nos de conforto e de memórias. Este prato, cuja tradição parece vinda do lado da família do meu pai, em Vila Real, é sinónimo do cheirinho bom do refogado e de uma cozinha agitada. Nunca fomos muitos, mas a mesa faz-se sentir como se fossemos um batalhão! Repetimos a dose, generosamente, e sentimo-nos renovados, é Natal!
Rita Pereira
O Bacalhau
Não seria Natal sem uma boa dose de Bacalhau cozido à Portuguesa. Cá em casa não falta na véspera e, com o chamado “Farrapo Velho”, no dia!
Mas a tradição vai mais longe, pois todos os anos fazemos questão de enviar postas nacionais para parte da nossa família do outro lado do Atlântico, nos EUA e no Brasil. Enviamos em outubro e novembro, chegando perto da véspera de Natal a cidades como Los Angeles ou São Paulo. Mais do que apenas uma refeição, o bacalhau tornou-se uma verdadeira amostra dos laços familiares na nossa família.
João Pedro Albuquerque
As Rabanadas
Na minha mesa de Natal não podem faltar, de modo algum, as rabanadas. Todos os anos, a partir do vigésimo dia de Dezembro, todas as chamadas da minha avó incluem referências à sua iminente confeção. Tudo isto se deve ao simples facto de, desde que possuo uma contagem de dentes com dois dígitos, me dedicar à limpeza da tigela em que elas são colocadas na mesa de jantar.
Em ERASMUS na Suécia, quando me pediram para fazer um prato típico da minha família, não pude deixar de pedir a receita a minha avó. Após instruções muito confusas e anotações rabiscadas num caderno, descobri que aquilo que pensava tratar-se de uma técnica para aproveitar pão velho começava a tomar os contornos de uma bomba de açúcar, capaz de espalhar diabetes num raio de vários quilómetros.
Da minha aventura culinária ficou, apesar de ter cortado no açúcar por força da consciência, o apreço pela técnica. Se eu soubesse quão difícil é mergulhar o pão no leite sem que este se desfaça, nunca exigiria tantas rabanadas à minha avó. Ficou também a certeza de que, apesar do mal que escondem, continuarei a não permitir que aguentem demasiado tempo em cima da mesa. Mas, de agora em diante, com a promessa de correr 20 quilómetros por semana até ao Natal seguinte.
Francisco Caetano
Os Formigos
Para mim, o que distingue perfeitamente o Natal das restantes épocas do ano é, sem dúvida, a gastronomia. Na minha família foi-se criando um ritual que se pode chamar de transição geracional. Sendo eu a única menina num total de oito netos, numa família bem tradicional, fui quase que naturalmente eleita para absorver e perpetuar a tradição gastronómica. E eu, que adoro cozinha, aceitei a responsabilidade levianamente.
Desde miúda que preparo a doçaria de Natal com a minha avó. O dia de 23 de dezembro é sempre dedicado aos formigos ou também chamados de mexidos. Um doce aparentemente humilde, que se assemelha a uma versão doce de açorda. Não obstante, é uma receita que merece uma escolha cuidada dos ingredientes (vinho do porto, mel, pinhões, nozes, uvas passas e pão).
Apesar de responsavelmente já ter anotado a receita com os procedimentos bem descritos, a verdade é que é difícil acertar na dose certa de mel e vinho do porto tal como a minha avó o faz. E acreditem que não vale a pena perguntar porque não os sabes quantificar.
Depois de empratar os formigos, distribuem-se os pratos pelas casas dos familiares e amigos num gesto de carinho e amizade. Quem os prefere bem quentinhos, não chega a esperar pela véspera de Natal para os comer.
Apesar do trabalho de cozinhar para 10-18 pessoas (este ano não), percebem pela foto que basta um “Deixa-me tirar uma fotografia para enviar aos meus amigos” para a deixar babada.
Margarida Taipa
O Bingo
Na minha família, desde que era pequenina até aos dias de hoje, há a tradição de jogar o Bingo logo após a consoada, onde claramente nunca falta o protagonista principal do dia; o bacalhau. São horas de luta comigo própria, uma vez que não simpatizo nem com o bacalhau, nem com os números… Não fosse eu estudante de Jornalismo e desejasse a vida toda fugir à matemática…! Mas enfim, “problemas” à parte, passo sempre uma noite divertida junto da minha família e esperemos que este ano com o Covid-19 (eu não disse que detestava números?) ele não me tire nem o bacalhau, nem o Bingo, para pelo menos conseguir ter um saborzinho do que é um Natal em família.
Joana Carneiro
O Pai Natal
“Ho Ho Ho!” É a banda sonora que se costuma ouvir em minha casa nas 12 badaladas na véspera de Natal. Não, não é o grupo hidroxilo que atormenta os cérebros de quem o estuda, mas sim a chegada do Pai Natal que marca presença assídua e pontual todos os anos.
Diz a lenda que tudo começou com um fato de pai Natal guardado no fundo do armário, e que num dia natalício foi passear com alguém da minha família. Quando tocaram as badaladas, todos sabiam quem estava por detrás do fato que entrou pela janela da cozinha para distribuir as prendas. Todos, com exceção da avozinha que achou verdadeiramente que era o Pai Natal, exclamando “Esteve aqui o Pai Natal, e que jeitosinho que era”.
Desde então, a tradição perdura, e já chegou à geração mais nova este papel tão importante de rechear a barriga de almofadas, e deixar que o blush deslize sem limite no rosto, tornando a véspera de Natal sempre especial. Quem será o Pai Natal este ano?
Maria Alves da Silva
O Sapatino
Na minha casa, todos adoramos o Natal. Em Novembro já se começa a sentir o fervilhar do espírito natalício e – isto é controverso, admito – a árvore é feita ainda antes do fim do mês, acompanhada da playlist “Christmas Cheers”, cujo conteúdo é bastante óbvio. Assim, cresci habituada a ter toda a família à mesa, a comer tudo o que é mais tradicional e, claro está, a acreditar no Pai Natal.
Todos os anos, no dia 24 de dezembro, deixávamos “o sapatinho” aos pés da árvore de Natal e, na manhã de 25, havia sempre uma prenda para cada um – tinha passado o Pai Natal. Com o passar dos anos, deixou de haver crianças em casa. Seria de esperar que este costume se desvanecesse no tempo. No entanto, continuamos sempre a “deixar o sapatinho”, e as prendas continuaram a aparecer. Em vez de um Pai Natal descer pela chaminé, passou a ir dos quartos à sala: eu coloco as prendas para os meus pais, e eles colocam a minha. Nasceu, assim, uma tradição que irá perpetuar a magia do Natal e maravilhar as gerações vindouras.
Mariana Varejão de Magalhães
As Decorações
A árvore tornou-se o cerne das decorações de Natal e os termos “dar” e “receber” são já sinónimos desta época festiva. A árvore ilumina-se de cores que se refletem nos olhos de quem comtempla os inúmeros presentes debaixo da árvore e espera ansiosamente pelas doze badaladas que marcam a entrada no dia 25. Bem, em minha casa não é bem assim! Somos uma família pequena, e a impossibilidade, ainda mais este ano, de encher a mesa de familiares e amigos torna esta tradição ainda mais especial. Cá em casa, os “presentes” não estão debaixo da árvore, mas sim a decora-la. Adoro oferecer, trocar e receber bolas e decorações de natal, sentir que tenho um pouco de mim na casa de alguém especial e vice-versa. Ao longo dos anos, as decorações foram dando lugar às memórias, às recordações daqueles que são os verdadeiros “presentes”. Os restantes espaços vazios são ocupados com bolas e sininhos de chocolate que vão misteriosamente desaparecendo até ao dia em que as luzes se apagam. Mistério que prometo que nunca será desvendado! 🙂
Beatriz Araújo
E tu, queres contar-nos qual é a tua tradição de natal preferida?
Engenharia Rádio
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