Em tempos em que a garantia da segurança de cada um de nós colide com a oportunidade de se viver o espírito académico como até então se conhecia, a Academia do Porto reinventa-se para poder proporcionar um dos momentos mais marcantes no percurso de todos os estudantes.

Assim, e porque a tradição é para ser cumprida, na passada segunda-feira, dia 9 de novembro, às 00h01, deu-se início à Serenata aos Caloiros 2020.

O evento, organizado pela Federação Académica do Porto (FAP) e pelo Magnum Consillium Veteranorum da Academia do Porto, contou com a participação do Grupo de Fados do Instituto Superior de Engenharia do Porto (GFISEP), da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (GFFFUP), da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (GFFDUP) e do Grupo de Fados da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (GFFEUP).

Desta vez, deram-se as 12 badaladas, mas o luar da invicta foi substituído pelo aconchego dos lares. Ouviram-se as guitarradas mas não ecoaram, em uníssono, os nomes das casas que cada um carrega ao peito. Os acordes fizeram-se soar através do Porto Canal e não ao lado daqueles cujas amizades dizem ser para sempre.

Para Tiago Domingues, líder do GFFEUP, “numa altura difícil como esta, em que todos os estudantes são privados de alguns dos melhores momentos das suas vidas, é para o Grupo de Fados de Engenharia um enorme privilégio continuar a resistir e a manter acesa a chama da tradição académica.” Termina, deixando ainda uma mensagem de esperança:

“Esperamos que este momento tenha aquecido um pouco a alma de todos os estudantes e tenha dado um pouco de luz àqueles que estão agora a começar este caminho. A todos um grande bem haja, até ao momento em que nos possamos voltar a reunir e partilhar o mágico sentimento de ouvir as primeiras notas de um fado sob a luz do luar.”

Na perspetiva de Ricardo Mendes, aluno de 1º ano na Escola Superior de Saúde de Santa Maria, “é muito importante criar ligações fortes de amizade com quem nos rodeia, sentirmo-nos parte de algo ainda maior”. Segundo este caloiro, a suspensão da praxe acabou por prejudicar a integração dos novos alunos e, nesse sentido, refere que “a serenata foi a primeira oportunidade que tivemos de nos sentirmos parte da praxe, mesmo que não tenha sido presencialmente, deu para perceber o espírito que se vive e de sentirmos pela primeira vez que somos caloiros”.

Já para Justiniano Pereira, finalista de Enfermagem pela Universidade Fernando Pessoa, a nostalgia foi o sentimento de ordem: “O relembrar do nosso primeiro ano, os amigos que fizemos para a vida e o início de uma grande jornada. Começamos como jovens e acabamos como adultos. Apesar do momento que vivemos, conseguimos por breves instantes esquecer tudo e voltar ao nosso início.”

São evidentes as expectativas de quem dá agora os primeiros passos no seu percurso académico. Para os restantes, permanece o sentimento inevitável do tanto que parece ficar por viver, como seria suposto, uma vez mais ou pela última vez.

Inês Pires, aluna de 3º ano na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), confessa que “ficar em casa a assistir a uma serenata ao invés de poder abraçar aqueles com quem partilhamos os melhores anos da nossa vida foi difícil, mais difícil do que poderia sequer imaginar.” Contudo, apesar do sentimento de desconforto, admite o valor da iniciativa. Positiva, conclui dizendo: “Em breve, juntos numa noite ao luar, vamos dar muito mais valor a qualquer atividade que seja organizada e vamos para sempre lembrar aqueles que tornaram tudo possível quando até o abraço parecia impossível e os sorrisos se escondiam por trás de máscaras. Talvez a partir de agora consigamos transmitir, apenas com um olhar, a gratidão por tudo aquilo que sempre nos foi proporcionado na academia.”

Se ainda não tiveste oportunidade de ver, ou se gostarias de reviver esta serenata uma vez mais, poderás assistir à parte 1 e parte 2 da mesma, através do site do Porto Canal.

Rita Pereira