Opinião: “Mommy” – Xavier Dolan

Mommy (2014), de Xavier Dolan, é a quinta longa-metragem do realizador de 31 anos do Quebec, Canadá. O filme é uma explosão de loucura, choque, melodrama, basicamente um tumulto caótico e brilhante ao mesmo tempo. É um filme sincero, real e verdadeiro – e é engraçado. A dualidade mãe/filho remete-nos para o tema do primeiro filme deste realizador, I Killed My Mother (2009), agora com uma situação inversa.

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Diane, ou “Die” – interpretada por Anne Dorval – trata-se de uma mãe viúva de quarenta e seis anos com dificuldades financeiras, cujo filho Steve – interpretado por Antoine-Olivier Pilon – se trata de um adolescente de quinze anos que apresenta diversos distúrbios e necessidades. Este é hiperativo, barulhento e abusivo, e acaba inclusive de ser expulso de um colégio por iniciar um fogo no refeitório e causar queimaduras a um colega. Por esta razão, Die precisará de ser capaz de cuidar e educar Steve em casa.

Steve tem ADHD (défice de atenção) e sérios problemas de controlo – essencialmente um adolescente psicótico – tornando-o num pesadelo vivo para quem quer o seu melhor. Porém, a sua mãe não é assim tão diferente, e logo que este é ​​entregue aos cuidados de Die, as brigas e gritos começam pelo mais insignificante motivo. Todavia, ele continua seu filho – neurótico, mas adorável e charmoso – e Diane é uma lutadora, determinada a salvá-lo contra todas as probabilidades.

Para moderar esta dupla explosiva, maníaca e claustrofóbica, uma espécie de “milagre” acontece: os dois fazem amizade com Kyla – interpretada por Suzanne Clément – uma professora vizinha deles que sofreu um colapso nervoso dois anos antes, tornando-se gaga a partir dessa altura. Ela oferece-se para ser professora de Steve e, apesar de um início conflituoso, consegue acalmá-lo, ganhando a sua confiança e admiração, e ainda estabelece um relacionamento amigável com Die, descobrindo pouco depois que a sua gaguez melhora enquanto está na presença dos dois.

A partir deste momento, este vai ser o trio central ao longo de todo o filme, tratando-se dos três como uma família, família esta que funciona dentro do seu meio inerentemente imperfeito e desequilibrado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma das coisas mais insólitas e únicas do filme é a sua proporção. Esta, ao contrário do habitual 16:9 do cinema, é quadrada (1:1). A tela mostra os seus horizontes restritos e reflete o poder emocional comprimido do drama, forçando-nos a entrar dentro da mente de Steve, não oferecendo, assim, qualquer escapatória. Há uma leve sugestão de camisa de força neste formato, uma semelhança que fará sentido mais tarde, quando a tela se alarga temporariamente em momentos mais felizes e de êxtase.

Trágico, mas luminoso, com um dos melhores e mais angustiantes fins que já presenciei, Mommy é um filme de violência e luto pontuado por explosões de alegria absoluta. O ritmo é implacável, repleto de todos os tipos de emoção, tornado ainda mais intenso pelo ótimo trio de atores. Dolan deixa-nos pouco tempo para recuperar o fôlego: o passeio é selvagem, alto e encharcado de música pop (como Céline Dion e Lana del Rey).

Em suma, Mommy são 134 minutos emocionantes de cinema a não perder. É difícil não ficar deslumbrado com a precocidade de Xavier Dolan, a sua energia voraz e a intensidade emocional do seu trabalho. Com mais três filmes lançados desde Mommy (oito filmes no total, e sem contar com outras participações), Dolan continua a ser uma das novas vozes mais empolgantes, marcantes e distintas do cinema atual.

Podes consultar o Trailer do filme aqui!

 

Tiago Cardoso

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