COVID-19: o impacto causado pela interrupção do desporto
Os resultados são claros: a paragem competitiva devido à COVID-19 resultou num aumento da ansiedade, stress e perturbação do sono, bem como numa diminuição da felicidade dos atletas.
O estudo ‘Da paixão ao Abismo: O Impacto Indireto da COVID-19 na Saúde Psicológica dos Atletas’ é da autoria de Liliana Pitacho, Patrícia Palma e Pedro Correia. A sua elaboração partiu de um levantamento efetuado pela Universidade de Lisboa, iniciado algumas semanas após a declaração de pandemia mundial por parte da OMS.
Participaram cerca de 1400 atletas de oito modalidades distintas, com uma média de idades de 20,32 anos. Do universo global de inquiridos, 48,7% pertenciam a escalões de formação, tendo entre 13 e 17 anos. Os restantes atletas alinhavam em escalões competitivos, sendo que 22,6% da amostra indicou ser remunerada pela prática desportiva.
O trabalho dos docentes do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) concluiu que mais de 50% dos atletas revela níveis patológicos de stress provocados pela suspensão das atividades desportivas. Comparativamente, mais de 40% passou a sofrer de perturbações do sono, de risco elevado para a sua saúde. Para além disso, mais de 75% sente-se mais infeliz do que no período anterior à pandemia, sendo que apenas cerca de 13% receberam apoio psicológico garantido pelos seus clubes.
Um dos pontos mais relevantes da investigação é o aumento da suscetibilidade a lesões. Os atletas verificam que surgem mais dificuldades físicas, nomeadamente sob a forma de problemas musculares. Aliada a este flagelo, surge a quebra de produtividade. As alterações metabólicas provocadas pela falta de descanso são diretamente responsáveis pelo incremento da fadiga e pela falta de energia.
Este último ponto é especialmente preocupante nos jovens. Não coloca em risco apenas o seu desenvolvimento desportivo, mas também o cognitivo e pessoal. As perturbações verificadas no sono afetam o crescimento podendo, a quebra de produtividade, traduzir-se num aproveitamento escolar deficitário. A incerteza que ainda recai sobre a retoma dos escalões de formação pode levar ao abandono desportivo de muitos jovens atletas.
A paragem desportiva não se traduziu apenas numa quebra das receitas dos grandes clubes ou na ausência, por alguns meses, de entretenimento para as massas. Afetou a saúde mental de muitos atletas de todas as idades e modalidades. Afeta o desenvolvimento dos jovens e a sustentabilidade financeira de muitos adultos que fazem do desporto o seu ganha-pão. O alerta foi dado e os resultados estão à vista de todos. Espera-se, à luz dos dados e testemunhos apresentados, que surja, o mais brevemente possível, um plano de ação que vise mitigar algum do impacto causado pela interrupção do desporto.
Francisco Caetano
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