Opinião: “Just Kids” – Patti Smith
Patti Smith, uma jovem pobre do sul de Nova Jersey, começa esta viagem ao mudar-se para Nova York em busca do seu sonho: o de se tornar uma artista e poeta. Eventualmente tornou-se a mulher renascentista dos punks que todos conhecemos, mas antes disso muito teve de moldar a sua aparência, personalidade e versos.
Smith abre-nos os braços e aceita-nos como velhos amigos. Alguém com quem nos sentamos num jardim ou num café e nos conta a sua vida. Patti aceita a sua ingenuidade juvenil, deixando as suas emoções de um tempo longínquo fluírem, colocando-nos numa atmosfera de nostalgia de uma vida que não foi nossa.
Foi com 20 anos que conheceu Robert Mapplethorpe, que tinha a mesma idade e era igualmente pobre. Por cada um deles ter um senso de estilo pessoal inato e altamente original, Smith encontrou em Mapplethorpe um colaborador inspirado e igualmente determinado, um homem tão obcecado com a criação artística como ela. E tal como o título sugere, esta amizade duradoura foi definida mais do que qualquer outra coisa exatamente pela sua inocência e pureza.
Independentemente daquilo que acontecia no mundo em redor deles, da pletora de sentimentos que crescia como flores selvagens dentro de cada um, Patti relembra-nos que o amor que nutriam um pelo outro andava de mãos dadas com a sensação de serem apenas crianças.
Em adição, apesar de ser uma autobiografia, Patti não deixou de parte, de todo, o talento e a arte de Robert, mais especificamente a sua paixão por fotografia. Sendo ela a maior musa da sua arte, quando de artista e poeta passou a cantora e rock star em tour por todo o mundo, Mapplethorpe produziu o famoso retrato de “Horses”, álbum de estreia de Smith, o que sem dúvida ajudou a consolidar a imagem de ambos.
Smith elaborou um livro de memórias comovente e delicadamente escrito, e em especial uma carta de amor para um homem que se tornou o seu pilar de crescimento e inspiração, e a sua amizade mais forte e pura.
Conseguiu reunir em pouco mais de trezentas páginas todos os elementos que tornaram Nova York tão emocionante na década de 1970: o perigo e a pobreza, a seriedade artística e o otimismo, a sensação de conexão a toda uma história de grandes artistas no passado, os rapazes de couro, as drag queens, celebridades, colecionadores de arte e, especialmente, o rock and roll.
A sua genuína devoção aos que mais a inspiraram artisticamente e a velhos amigos caracteriza todo o livro. De facto, e concluindo, este livro é uma ode à criação artística, a todo o trabalho que está por detrás da arte e ao reconhecimento posterior, e como certos momentos incertos e únicos podem transformar completamente o nosso destino.
Tiago Cardoso
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