Vodafone Paredes de Coura – Dia 4: um final glorioso com Patti Smith
O último dia do Festival Vodafone Paredes de Coura ficou marcado pela esplêndida atuação de Patti Smith, que conseguiu, para muitos, dar o melhor concerto da edição de 2019 de Paredes de Coura. Destaque também para Alice Phoebe Lou, que encantou o palco secundário, e para Freddie Gibbs & Madlib, que voltaram a trazer hip-hop ao palco Vodafone.
Foi provavelmente o dia que menos gente trouxe às margens do rio Coura, num suspiro de alívio para muitos que puderam apreciar os concertos de uma forma mais relaxada.
Alice Phoebe Lou marcou presença ao final da tarde no palco Vodafone.FM. Pela segunda vez em Portugal, após ter estado o ano passado no Festival Para Gente Sentada, em Braga, a jovem cantora Sul Africana proporcionou-nos um dos concertos mais especiais a passar pelo palco secundário desta edição. Apesar de estar doente, Alice entregou-se ao concerto o máximo possível, elogiando por várias vezes o público que se encontrava diante dela e agradecendo timidamente o carinho recebido.
Tendo lançado o seu último álbum em março de 2019, uma combinação entre soul, jazz e blues intitulado “Paper Castles”, focou-se durante a maioria do concerto neste mesmo álbum, chegando até a pedir desculpa se alguns queriam ouvir temas mais antigos, mas referindo que era a forma de se sentir bem com a música que tocava e de se divertir tanto quanto nós. Um concerto marcado por músicas calmas e românticas, houve ainda espaço para dança, da própria artista que tanto se divertiu em palco. Terminou com o seu tema mais conhecido, “She”, nomeado em 2017 para Óscar de melhor canção original. No final do concerto, a artista desceu ao recinto para tirar fotografias, dar e receber abraços e vender alguns dos seus álbuns.
O palco secundário foi ainda o espaço que teve a honra de receber os portugueses Sensible Soccers para apresentar o álbum “Aurora” (2019) e Kamaal Williams, numa onda repleta de improvisos de jazz e a tocar fortemente nos ritmos mais próximos do hip hop, facilmente notados no recente álbum “The Return” (2018).
Um hino à liberdade
Com 72 anos, a voz da experiência de Patti Smith encanta cada vez mais. Era um dos concertos mais esperados do cartaz, e a rainha do punk rock americano mostrou ser ainda capaz de levar um público, maioritariamente jovem, a cantar as suas letras, com uma classe inigualável. “People Have the Power” abriu as hostes e ficou desde início bem claro o tipo de energia que se esperava da atuação.
Num ano em que se comemoram os 50 anos do acontecimento do festival Woodstock, Patti Smith faz uma menção ao mesmo, enquanto prega os mesmos ideias intrínsecos. Gritando palavras de esperança, como “Freedom” e “We’re gonne change the world”, por várias vezes fez alusão ao que considera serem ameaças para a sociedade atual, como o nacionalismo e individualismo.
Referências a Lou Reed (“Walk on the Wild Side”), Jimi Hendrix e Rolling Stones elevaram a atuação para outra dimensão. O público por várias vezes lhe fez uma ovação, numa espécie de celebração a toda a sua carreira. Os auges deste concerto que marca indubitavelmente a história do Vodafones Paredes de Coura são “Because the night”, utilizado também várias vezes na promoção do próprio festival, e “Gloria”, num onda mais gospel, que provocou o êxtase em toda a plateia, saltando mais que em muitos dos concertos mais mexidos do festival. Jovens visivelmente emociados no final demonstram o impacto que a cantora tem em várias gerações em simultâneo, enquanto permanece uma peça de museu ainda viva, e que merece ser vivida desta forma.
Hip Hop volta a triunfar em Coura
Num registo bastante diferente do que estamos habituados a ouvir em Paredes de Coura, mas seguindo o legado que deixou o ano passado Skepta, o rapper norte-americano Freddie Gibbs subiu ao palco pelas 23h15 com o intuito de deixar uma clara mensagem, “fuck police”, que foi repetida incessantemente por todos. Foram estas as palavras que mais se ouviram o rapper proferir durante o concerto, que ficou marcado pelos moches e saltos intensos nas primeiras filas, que fizeram até levantar pó.
Se houve quem não achasse muita piada a este concerto, esperando ansiosamente o concerto de Suede, os que estavam presentes para o ver tiveram certamente dos melhores momentos do festival, dada a forma que o artista o viveu. Gibbs deu um espetáculo, saltou, cantou, fumou, bebeu, pediu a todos barulho e conquistou a legião de fãs que saltavam e gritavam, com cartazes nas mãos, na parte da frente do recinto.
Acompanhado por Madlib nos pratos, Freddie Gibbs baseou a sua atuação sobretudo no recente álbum “Bandana”, lançado em junho, passando temas como “Crime Pays”, “Situations” e ainda “Giannis”, que conta com a colaboração de Anderson Paak. Passou também pelo primeiro álbum do duo, “Piñata”, de 2014. No final do concerto, logo que começou “Thuggin”, a sua música preferida de sempre, afirmou, Freddie voltou a rebentar com o recinto, terminando a chorar emocionado nos braços de Madlib. Este concerto provou mais uma vez que há espaço no habitat natural da música para hip-hop, que já no ano passado se mostrou bem recebido.
Talvez injusta a missão de Suede de fechar o palco principal neste último dia de festival, após a emoção que já tinha sido vivida durante a noite. Apesar de um público cansado e algo adormecido, Brett Anderson deixou tudo em Coura e deu um espetáculo como se tivesse o recinto a abarrotar, começando com temas épicos como “As One” e “Outsiders”. Os afters hours da noite ficaram a cargo de Flohio e Jayda G, que fecharam o palco Vodafone.FM já após o sol nascer.
O balanço desta edição por parte da organização foi muito positivo, que referiu ter sido o melhor cartaz de sempre, marcando presença na Praia Fluvial do Taboão mais de cem mil pessoas. De 19 a 22 de Agosto de 2020 a música está de volta ao seu habitat natural. Até para o ano!
Rita Moura, Carlos Silva
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