12 álbuns que marcaram 2018
A poucas horas de terminar 2018, a Engenharia Rádio dá-te a conhecer 12 álbuns que marcaram este ano. Fica com as melhores escolhas da nossa equipa.
Dead Combo – Odeon Hotel
Odeon Hotel é já o sexto álbum original dos Dead Combo, mas o primeiro produto gravado com o produtor norte americano Alain Johannes, que veio subir o nível do dueto musical português, Tó Trips e Pedro Gonçalves. Uma composição instrumental marcada pelo rock, pelo blues e com influências sonoras que vão desde África à América Latina, fazem vibrar a tradicional música Portuguesa sob um palco cosmopolita levemente intemporal, eternizando harmoniosamente os povos, independentemente das suas origens, culturas, etnias e hierarquias sociais.
Um disco que permite ao ouvinte dar asas à imaginação e envolver-se num ambiente calmo e humano, marcado por Carmen Miranda numa viagem até ao Brasil, por Marl Lonegan que dá voz à excentricidade de Fernando Pessoa com o poema I Know, I Alone e pelo tema The Egyptian Megician, o qual celebra um abraço de despedida ao amigo Zé Pedro. Não será por acaso que o álbum será editado em todo o mundo pela primeira vez na história da Banda!
Beatriz Araújo
Diabo na Cruz – Lebre
A festa dos Diabo voltou para o seu quarto álbum de estúdio. Após quatros anos do lançamento do seu álbum homónimo os Diabo na Cruz editam agora Lebre. A banda liderada por Jorge Cruz que se apresenta como uma banda de “roque popular”, também nome do segundo álbum, dá agora o destaque máximo à lebre, palavra com forte presença em todos os álbuns, mas que a banda sentiu só agora fazer sentido ter uma canção e um álbum do mesmo nome. Porquê? Talvez pela associação de lebre ao campo e para tudo o que isso nos remete, a procura pela tranquilidade o conforto e um sentimento de pertença.
O disco começa com Forte como uma afirmação de que ainda há muito por dizer e leva-nos depois para um lugar nostálgico com Roque da Casa ou Terra Natal, seguidas por uma tristeza e revolta em Balada e Terra Ardida. Portugal fecha o álbum a contar uma vida portuguesa e deixa um sentimento de não desistência no país.
Pedro Oliveira
Iceage – Beyondless
O sôfrego quarto álbum da banda post-punk dinarmaquesa Iceage é comparado ao espumar de uma garrafa de champanhe num esmagamento em câmera lenta pela revista online americana Pichtfork. A composição poética e um tanto indecifrável envolta de um fundo sonoro animalesco, saturado de riffs de guitarra e tensão da bateria diluem-se com numa simplicidade instrumental notada de melodias de piano e violino, porém sempre com as tediosas e vivazes vocais de Elias Ronnenfelt.
Catch It, Take it all, Hurrah, Pain Killer e The Day that Music Dies são algumas das faixas preenchidas de uma tonalidade de Jazz e puro Rock que colocaram o álbum no segundo lugar dos melhores álbuns internacionais de 2018, nomeados pela Blitz.
Ariana Nunes
Insecure Men – Insecure Men
Insecure Men é o albúm de estreia da banda Insecure Men, liderada por Saul Adamczewski (vocal), mais conhecido pelo seu trabalho como guitarrista e vocalista dos The Fat White Family. O álbum autointitulado resultou da colaboração do seu amigo de escola e da duradoura influência músical de Ben Romans-Hopcraft (baixo) e Sean Lennon (guitarra) e nasceu do encontro dos músicos amigos no The Queens Head Pub em Stockwell, Londres, onde costumam ensaiar com as suas bandas e tocar por diversão.
Esta iniciativa é totalmente diferente dos seus projetos anteriores pela sua índole mais introspetiva e relaxada, sendo o próprio de “projeto de sobriedade” para Saul Adamczewski, segundo uma entrevista para a “The Quietus”. Maioritariamente inspirado em registos de salão dos anos 50, músicas dos anos 60 e influências como Denim e Go Kart Mozart, Insecure Men é uma mistura de lounge e pop intemporal com um carácter exótico.
Vera Nunes
Jack White – Boarding House Reach
Quando tudo levava a crer que Jack White estava inteiramente dedicado à produção e à defesa dos direitos do vinil, este presenteou-nos com as suas melhores criações desde os tempos dos White Stripes. Se as expectativas eram baixas, tratando-se de um artista da velha guarda e inserido num género já dado por alguns como morto, Jack White alterou completamente o paradigma com a conjugação de sonoridades eletrónicas e do conforto do rock a que estamos acostumados.
Este é um álbum que não deixa de parecer cru, apesar da elevada qualidade de produção. Boarding House Reach é uma fonte surpreendente de novas experiências musicais e que dá o mote para que novos artistas as explorem.
Marco Teixeira
Joana Espadinha – O Material Tem Sempre Razão
O lançamento do single Leva-me A Dançar no início do ano foi como que uma pedrada no charco da pop nacional. Um som diferente, elaborado, leve e subtil, muito contrastando com a formação jazz de Joana, foram um aviso sobre o que estaria para vir. A participação de Joana Espadinha no Festival da Canção com Zero a Zero trouxe um amargo nono lugar mas continuou a alimentar o desejo de mais neste registo musical.
Pensa Bem, single lançado em julho, foi o corolário desse desejo. Aquilo que Joana estaria a desenvolver com Benjamim, nome artístico de Luís Nunes, não era de circunstância, mas sim o caminhar para um álbum que reunisse esta sonoridade num só lugar. Nasce daí O Material Tem Sempre Razão. Raramente se sente nostalgia por uma música que se ouve pela primeira vez. Foi isso que Joana conseguiu: um álbum recheado de lirismo e com uma sonoridade tão especial, qual abraço terno capaz de nos fazer abstrair do rifão quotidiano.
Hugo Guia
Kids See Ghosts – Kids See Ghosts
O ano de Ye foi ocupado e a sua colaboração com Kid Cudi trouxe, de forma um pouco inesperada, talvez o álbum de rap/hip-hop mais falado este ano. O duo, de nome Kids See Ghosts ofereceu-nos um álbum com o mesmo nome do duo. Um álbum sublime, com variedade musical dentro do estilo e não só, produzindo a melhor música rock do ano (Freeee), indo dar um olá a Kurt Cobain, e acima de tudo, proporcionado muitos momentos de vulnerabilidade, algo que porventura não se esperaria.
O que é de esperar (e suspirar para que aconteça) é que se voltem a juntar num futuro próximo, pois Kids See Ghosts é o bom dos supergrupos e o que todos deveriam alcançar, a realização do potencial dos seus intervenientes (e Kid Cudi bem precisava).
José de Sá
Papillon – Deepak Looper
O primeiro projeto a solo do rapper português Papillon só é uma surpresa para quem nunca tinha ouvido o coletivo GROGNation ao qual o artista pertence. Com um álbum autobiográfico do início ao fim, Papillon presenteou não só os fãs de hip-hop, mas também de música em geral, com este Deepak Looper.
O álbum que saiu em março deste ano que agora termina, conta com a produção do SlowJ e tem como curiosa característica o facto de as músicas começarem todas com “IM”. O álbum conta com participações do Plutónio e do Slow J.
Manuel Aranha
Shatner’s Bassoon – Disco Erosion
Minimalismo passivo-agressivo, post-jazz ou prog jazz são alguns atributos com os quais a banda Shatner’s Bassoon se autorretrata. Influenciada por artistas como John Zorn, Frank Zappa e Fred Frith, esta banda britânica de Leeds dedica-se a uma sonoridade com base no improviso, misturando sobretudo elementos de free jazz e punk.
Em Disco Erosion, trabalho mais refinado até à data, toda a cacofonia caótica do grupo vem ao de cima na melhor forma, revelando uma excelente química entre os membros para além daquilo que são os seus dotes individuais. Singular, extremamente talentoso e original, este álbum é o culminar de um trabalho meticuloso feito por artistas que adoram o que fazem e enviam assim uma carta de amor a todos os fãs de música que é experimentada e levada ao limite, uma pérola bem escondida em 2018.
João Gomes
Snail Mail – Lush
Lindsey Jordan, uma jovem adulta, com apenas 19 anos de idade, estreou-se este ano com o álbum Lush saído a 8 de junho com o carimbo da Matador Records.
Este belíssimo trabalho afirma-se não só pela fantástica sonoridade que oferece, através de um excelente trabalho de guitarra e colocação de voz, mas principalmente pela maneira inteligente como a autora aborda uma fase melancólica e amorosamente frustrante da sua adolescência. Faixas como Pristine e Heat Wave destacam-se no álbum, e abordam perfeitamente o tema, sendo de audição obrigatória.
Gustavo Magalhães
Spiritualized – And Nothing Hurt
A banda de J Spaceman voltou aos discos em 2018, seis anos depois de Sweet Heart Sweet Light. Os Spiritualized regressam com o seu lado mais romantico e com a qualidade a que nos habituaram na sua extensa discografia. A Perfect Miracle surge como primeiro tema do disco, single de avanço e uma das mais belas canções de 2018.
J Spaceman, em entrevistas, referiu que este, muito provavelmente seria o seu ultimo disco por considerar não haver mais nada que ele poderá acrescentar na musica.
Francisco Lobo de Ávila
The Internet – Hive Mind
O panorama do neo-soul fica marcado pelo lançamento do quarto álbum de The Internet. It Gets Better (With Time) é uma das faixas e descreve também o caminho que o coletivo fez nos últimos anos. Após uma nomeação para um Grammy com Ego Death em 2015, e de um ano de 2017 dedicado a projetos a solo dos seus membros, o mais recente Hive Mind lançado em julho enche as medidas com um trabalho coletivo notável.
Este projeto passeia nos limites pouco visíveis do jazz, funk e rap. Destaca-se a coerência sonora ao ouvir o álbum na íntegra, a suavidade de cada riff de baixo e o ambiente calmo construído à volta de batidas simples, mas suficientes para transbordar um groove poderoso e sem esforço. A intoxicante voz de Syd é um bónus, ao murmurar questões quotidianas de uma relação amorosa, entre outras narrativas emocionais.
Carlos Silva
Edição: Filipe Teixeira
You must be logged in to post a comment.