França: o vencedor que importa, 64 jogos depois
Adeptos, Bola, Balizas, Festa, Futebol, Golos, Mundial, Nações, Troféu… Ao longo das próximas linhas vamos abordar mais momentos para além do triunfo francês e destacar pormenores que, com o tempo, os entusiastas se vão esquecendo. No Mundial o que mais importa é o vencedor mas o trajeto não deve ser ignorado! Quem sabe, este texto possa ser útil para consulta posterior.
Para a história e referências futuras no panorama do futebol, ficará eternizado que a seleção vencedora do Mundial da Rússia 2018 foi a francesa. Tal como se recordam as conquistas do Uruguai em 1930 e em 1950, da Argentina em 1978 e em 1986, da Espanha em 2010, da Inglaterra em 1966 e, dado que a memória não dá para tudo, é lembrado que a Alemanha e a Itália venceram por quatro vezes e que o Brasil já ergeu a tão desejada taça por cinco ocasiões. Este ano, após 64 jogos, o mundo descobriu o vencedor que importa, quem levou o troféu!
No entanto, há razões para acreditar que o universo futebolístico não irá esquecer a seleção vice-campeã, a Croácia. Os franceses vão sempre saber contra quem disputaram esta final, que lhes deu o segundo título de Campeões do Mundo da sua história, vinte anos após derrotar o Brasil de Ronaldo, o Fenómeno. Por outro lado, os croatas não vão esquecer esta geração que os levou a sonhar com o troféu e que o teve tão perto, mais do que em 1998 quando alcançou o jogo das meias finais – curiosamente derrotada pelos anfitriões franceses – até este ano a melhor marca desta seleção, logo na sua primeira participação na maior competição de seleções do mundo.
E por fim, os adeptos desta modalidade não esquecerão a equipa de Modric, Perisic, Rakitic, Kramaric, Vida, entre outros, pela qualidade do jogo que apresentaram, a forma como tentaram bater o pé aos gauleses e, antes disso, o percurso até à final.
Já vamos abordar esse encontro decisivo, todavia, há mais para falar até porque este mundial trouxe surpresas. É certo que na maior competição do mundo, a história mostra alguns casos inesperados, porém, pode dizer-se que este ano houve um grande acumular destas situações.
Além disso, também é certo que este mundial proporcionou recordes no capítulo da marcação de grandes penalidades, 29 assinaladas e sete não convertidas, e alguns golos pouco desejados, doze na baliza “errada” – o recorde eram seis e remontava a 1998.
Fase inicial da prova: difícil e com surpresas
Um olhar para cada grupo na fase inicial da prova indica logo a singularidade da vigésima primeira edição do Campeonato do Mundo, sendo que as histórias por trás de cada jogo e as suas consequências são muito maiores do que o resultado final e mesmo as estatísticas nem sempre revelam como foi o desenrolar dos minutos até ao apito final.
Em primeiro lugar, a seleção anfitriã inaugurou o seu percurso com uma vitória por 5-0 frente à Arábia Saudita, pelo que o desfecho tão desnivelado pode causar estranheza – os russos nem tinham vencido nos sete jogos amigáveis que realizaram como preparação. Neste grupo A, a Rússia, a par da seleção uruguaia, foi protagonista e a equipa do Egito não foi tão deslumbrante como o esperado.
Já no grupo B, as contas não foram propriamente fáceis de fazer como se podia perspetivar. As seleções do Irão e Marrocos demonstraram que queriam deixar marca na competição e tornaram o percurso de Espanha e Portugal menos calmo. Neste conjunto de jogos que ditaram a passagem dos espanhóis na primeira posição, através de um desempate na classificação com recurso ao número de golos marcados (seis contra cinco, vitória para os espanhóis), destacam-se alguns lances: recordamos o golo na própria baliza de Bouhadduz no último minuto que deu três pontos para os iranianos, os três golos de Ronaldo à Espanha (o livre direto ficará eternizado), o remate de primeira de Nacho que ainda embateu no poste antes de entrar, a “trivela” de Quaresma e o momento de todas as decisões na última jornada. A história é simples, já em tempo de compensação, quer no jogo de Portugal quer no jogo de Marrocos, estas duas seleções viram a sua vantagem de um golo anulada através de uma grande penalidade. Ansarifad foi o carrasco de Portugal e Iago Aspas cumpriu frente aos marroquinos.
As grandes surpresas e mais alguns sobressaltos surgiram nos grupos D e F, no primeiro, a Argentina esteve em apuros, só que conseguiu ultrapassar a Nigéria por um ponto ao vencer a sua partida na última jornada e beneficiar da vitória croata sobre os islandeses, que somaram um ponto na sua estreia em mundiais. No segundo, a detentora do título de seleção campeã do mundo, a Alemanha, iniciou o seu trajeto com uma derrota frente aos mexicanos por 2-0, batalhou no segundo jogo para fazer a reviravolta frente aos suecos (vitória por 2-1) mas, na procura cega pela vitória, vacilou nos minutos finais no terceiro encontro contra a República da Coreia. Neste grupo os destaques são a primeira vitória do México, esta vitória dos coreanos e a capacidade de disputar os jogos por parte da Suécia, que atingiu os quartos-de-final.
Além destes dois grupos, não esquecer o grupo H. Estas quatro equipas, que podiam facilmente ser esquecidas, ofereceram ao mundo jogos bastante equilibrados, de grande qualidade e emoção. Isto é completamente verdade se os adeptos ignorarem os minutos finais do encontro entre os japoneses e os polacos da última jornada, já que este se tornou bastante lento quando o conjunto nipónico se apercebeu que ia seguir em frente por ter menos dois cartões amarelos do que o adversário direto, o Senegal.
Fase eliminatória: derrubados os favoritos
Passamos para a fase a eliminar, na qual os crónicos vencedores foram eliminados aos poucos e os menos favoritos souberam tirar partido da sua condição.
Para começar, a Rússia eliminou a Espanha no desempate por grandes penalidades após um jogo de bastante sofrimento de parte a parte, a França ultrapassou a Argentina – com a ajuda do remate de Pavard e a grande exibição de Mbappé – e a equipa do Uruguai, que tinha batido Portugal por 2-1. De forma silenciosa e sem grandes problemas de maior, a Inglaterra após converter mais penalidades do que a Colômbia fez o seu trajeto até às meias-finais, onde enfrentou a Croácia.
Por fim, a seleção belga também deixou marca no torneio, não só por ter alcançado o terceiro lugar, mas também porque submeteu a candidatura de uma jogada nos próximos livros de futebol. Esse lance aconteceu no jogo frente ao Japão, em nove vírgula oito segundos, e ditou o apuramento para os quartos-de-final. Neste jogo a seleção nipónica encontrou-se a vencer com dois golos de vantagem mas saíram derrotados por 3-2. Aos belgas valeu o espírito de equipa e a sua qualidade ofensiva.
No último minuto, há um canto para o Japão, Courtois segura a bola, coloca o esférico nos pés de Kevin De Bruyne, este corre pela zona central até ao meio-campo adversário e coloca a bola no espaço à sua direita. Meunier tem a bola à sua disposição, cruza para a área, Lukaku simula e Chadli dá o toque fatal para dentro das redes! Assim, os atletas japoneses rumaram a casa, não sem antes deixar tudo arrumado no balneário, e a Bélgica seguiu o seu caminho até ser eliminada pela França.
É de referir que a seleção francesa chegou ao encontro final com uma dezena de golos marcados e apenas quatro sofridos e, a par da Dinamarca, a protagonista do único empate sem golos deste torneio. O adversário que tinham pela frente não era para subestimar, a seleção dos Balcãs tornou-se a primeira a superar três prolongamentos no caminho até ao jogo da luta pelo título, sendo que por duas vezes o resultado só foi decidido através do desempate por grandes penalidades (frente à Dinamarca e Rússia).
GOLO!(x6) e no fim ganha a França
Quanto à partida final, a nona entre equipas europeias, realizada no estádio Luzhniki em Moscovo, no dia 15 de julho, a França começou a vencer aos 19 minutos através de um golo na própria baliza de Mandzukic. Este jogador croata, que marcara o golo da vitória na meia-final sobre a Inglaterra já nos descontos, tornou-se o primeiro jogador a ter esta infelicidade numa final desta competição. Sempre mais perigosa e constante na área francesa, a equipa orientada por Dalic chegou ao golo perto da meia-hora de jogo através de Perisic.
Do outro lado, no conjunto orientado por Deschamps, Griezmann converteu a grande penalidade atribuída a esta equipa, após o árbitro (com recurso ao Árbitro Assistente de Vídeo, o videoárbitro) considerar que Ivan Perisic jogou a bola com a mão. Desta forma, estava reposta a vantagem para a França com 2-1 no marcador aos 38 minutos e Griezmann aumentou o número de golos na conta pessoal para quatro nesta edição do Mundial, sendo três deles da marca dos onze metros.
Já a segunda parte trouxe mais três golos, ou seja, este jogo terminou com seis bolas nas redes. Se no fim do primeiro tempo já era necessário recuar a 1974 para recordar uma final com três remates certeiros nos 45 minutos iniciais, no fim do jogo os olhos tiveram de ser postos em 1970, desde esse ano que uma equipa não marcava quatro golos na partida decisiva da competição. Para atingir estes números foram fundamentais os contributos de Pogba, aos 59 minutos, Mbappe seis minutos depois e Mandzukic.
Se de um lado os franceses aproveitaram o espaço dado pelos centrais croatas e uma exibição menos conseguida de Subasic, do outro, Mandzukic aproveitou um erro de Lloris e reduziu a diferença do resultado para 4-2. Este jogador croata vai somando golos em finais, uma vez que já marcou por duas vezes em finais da Liga dos Campeões e marcou mais uma vez, na baliza correta, neste jogo.
Prémios, curiosidades e conclusão
No capítulo dos prémios, a Espanha venceu o galardão destinado à equipa com melhor Fair-play da prova. No sub-capítulo, o dos prémios individuais, Courtois viajou para casa com a Luva de Ouro após grandes exibições (o ponto alto pode ter sido a defesa nos minutos finais face ao Brasil) e Harry Kane, com seis remates certeiros em seis jogos (três da marca dos 11 metros), conquistou a Bota de Ouro.
A FIFA ainda atribuiu mais dois prémios, curiosamente a jogadores que estiveram presentes na final de Moscovo. Mbappe, de 19 anos, foi eleito o melhor jogador jovem enquanto Modric arrecadou o prémio de jogador da competição, a Bola de Ouro.
Para finalizar, e para perceber que o objetivo do jogo, marcar golo, por vezes é pouco conseguido nestas grandes decisões vale a pena ficar com mais um dado: neste encontro foram marcados tantos golos como aqueles faturados entre 2002 e 2014.
O Mundial da Rússia chegou ao fim não sem antes deixar um rasto de emoções pelo planeta, provocadas por cada bola dividida, a cada finta ou pormenor técnico, a cada golo marcado (169 no total, menos 2 do que em 1998), a cada suspiro antes de um livre ou grande penalidade, a cada momento até ao apito final ao fim de 64 partidas… ao qual se seguiu a festa gaulesa. Desta feita, Didier Deschamps colocou-se a par de Mario Zagallo e Franz Beckenbauer, uma vez que venceu o título de Campeão do Mundo quer como jogador quer como treinador.
Para análises táticas detalhadas é possível ouvir quatro edições do Palestra de Balneário dedicadas ao Mundial 2018.
Fotografias: FIFA World Cup
Diogo Metelo
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