A Transversalidade de um Engenheiro Mecânico – Reportagem VI ENEEM
Decorreu de 27 a 30 de março o VI ENEEM – Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Mecânica. Cerca de 350 estudantes de todo o país reuniram-se neste encontro, que decorreu pela primeira vez no Porto, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. A Engenharia Rádio esteve presente e conta-te tudo sobre este encontro. Podes ainda ouvir a entrevista à organização desta edição do ENEEM.
Transversalidade de um Engenheiro Mecânico
Enchendo o auditório da FEUP, foram cerca de 350 os estudantes de todo o país que vieram participar nesta que é a sexta edição deste encontro, e a primeira edição na cidade do Porto.
Na sessão de abertura, Diogo Pimenta, Presidente da Associação de Estudantes da FEUP, começa por mencionar a importância deste evento na valorização da profissão de engenheiro mecânico e da marca FEUP. Como tem sido recorrente nos seus discursos mais recentes, pede “mais apoio a estas atividades por parte da direção da FEUP”, uma menção ao custo associado aos espaços que os estudantes suportam para organizar estas iniciativas. Miguel Nuno Cunha, Presidente do NEEM – Núcleo de Estudantes de Engenharia Mecânica da FEUP, diz que o núcleo que preside tem “uma história recente mas intensa”, funcionando como complemento do curso de Engenharia Mecânica e que os estudantes desta área devem ser “futuros profissionais capazes de aceitar novos paradigmas”. João Paulo Sousa, Co-coordenador do VI ENEEM, fala de um “núcleo coeso e consistente que foi a resposta à necessidade dos estudantes” que tinha o objetivo de “trazer à FEUP o maior evento de engenharia mecânica na sua maior versão” e deixa um repto para a atitude que os participantes devem ter nos dias do evento: “Não sejam inertes”. A sessão contou ainda com intervenções de Jorge Seabra, Diretor do departamento de Engenharia Mecânica da FEUP, Augusto Sousa, Vice-Presidente do Conselho Pedagógico da FEUP e do Sr. Comendador António da Silva Rodrigues, do Grupo Simoldes.
Dado o tema do evento, “Transversalidade de um Engenheiro Mecânico”, o debate Papel de um Engenheiro Mecânico em 2050, ainda no 1º dia, era certamente um dos mais esperados. Foi feita uma discussão do papel de um engenheiro no futuro, das novas tecnologias que serão utilizadas, dos novos desafios e da evolução da profissão, com a moderação de Jorge Seabra, com intervenções de Diogo Pimenta, de Pedro Camanho, Professor catedrático na FEUP e do Luís Monteiro, Engenheiro da Bosch Termotecnologia.
Foi dado um grande foco às soft skills, a sua importância e integração nos próprios cursos. Diogo Pimenta diz que os estudantes é que têm que ter essa responsabilidade e devem envolver-se mais pois estas ajudam a ter visões diferentes, embora por vezes sobrevalorizadas. Quanto à possibilidade de estas competências extra serem obrigatórias por via de unidades curriculares, Jorge Seabra informa que tem formado engenheiros “todo-o-terreno”, e que poderá ter que haver espaço para formações mais específicas, embora os planos de estudo sejam feitos cada vez mais em função do interesse de cada estudante. Luís Monteiro, quando questionado acerca do que falta às empresas portuguesas para atingirem a dimensão de outras mundialmente conhecidas, refere que os portugueses “não estão muito orientados ao empreendedorismo, vêem a tecnologia como tecnologia e não como um propósito para a sociedade”, destacando ainda assim um “tecido industrial de PME com desafios de engenharia significativos”.
“Já não faz sentido um painel só masculino”
No 2º dia de ENEEM houve lugar a uma apresentação da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN) levada a cabo pelo seu Presidente, Joaquim Poças Martins. A Ordem dos Engenheiros tem cerca de 50 mil membros, sendo que 15 mil são da região norte, contudo na faixa etária dos menores de 30 anos há um número reduzido de engenheiros inscritos. Como tal, a OERN explicou as vantagens de pertencer a esta entidade, bem como dar as boas-vindas, logo a partir do 1º ano do seu percurso académico.
Um dos debates mais esperados era sobre Geração 4.0: A inovação pela ciência, tecnologia e arte, com as recentes evoluções da Indústria 4.0, da passagem do conceito de STEM (Science, Technology, Engineering and Maths) para STEAM (Science, Technology, Engineering, Art and Maths) e o papel da educação, com a moderação de Carolina Centeio Jorge, representante do IEEE WiE Portugal Section e intervenções de Teresa Duarte, Prof. da FEUP, Vera Miguéis, Prof. da FEUP, Filipa Brandão, Engenheira da Bosch, e Joana Antunes, do IEEE WiE IST.
Carolina Centeio começa por referir que “Já não faz sentido um painel só masculino” neste tipo de iniciativas, e foi discutido de forma prolongada o papel da mulher na engenharia e o que falta fazer para que sejam captadas mais estudantes do sexo feminino para a Engenharia Mecânica. Vera Miguéis indica que a atração de mulheres para a FEUP “carece de trabalho da própria instituição”, e da forma como se faz o marketing e divulgação de cada curso. Joana Antunes complementa a intervenção anterior dizendo que existe alguma ignorância face ao que significa a Engenharia Mecânica atualmente. Outro tema discutido foi o papel do design na evolução e a sua complementaridade com as várias áreas da engenharia. Teresa Duarte refere que é “fulcral a criação de equipas multidisciplinares e o ensino baseado em projetos” [que tem sido impossível pela redução de docentes, espaços e recursos] que permite a colabaração entre estudantes de diferentes áreas, explicitando ainda que “nunca haverá substituição de um designer por um engenheiro, e vice-versa”. Vera Miguéis vê a Indústria 4.0 como uma forma de “fornecer uma melhoria na tomada de decisão”, contrapondo a sensibilidade ou intuição de um operador, e prevê grandes mudanças nas áreas da saúde e educação.
Ainda durante a manhã foram realizadas várias sessões de “Pitch” nas quais eram realizadas curtas apresentações por partes das empresas havendo posteriormente lugar a questões por parte dos estudantes. As empresas presentes foram a Palbit, Dunbelt, BA Glass, o grupo Simoldes e a Fricon, que partilham entre si um fase de crescimento, investimento e recrutamento de novos Engenheiros: no último ano a Fricon teve um reforço dos seus recursos humanos na ordem dos 15 %, tendo ainda planeado um investimento de 3 milhões de euros na alteração/otimização de processo e linhas de produção; a Dunbelt, empresa importadora e distribuidora de componentes de transmissão mecânica, situada na Póvoa de Santa Iria, viu crescer nos últimos 2 anos as suas vendas em cerca de 42 %, mas almeja alcançar os 100 % de crescimento em 2020 face aos valores registados em 2015, prevendo ainda para breve a abertura de um escritório no Porto e está recetiva a candidaturas espontâneas para estágios, dissertações e trabalho. Por fim, a divisão de moldes do grupo Simoldes mostrou o porquê de ser o principal patrocinador do evento. O grupo líder no fabrico de moldes tem 30 empresas espalhadas pelo mundo, sendo que 12 delas se situam em Portugal, em Oliveira de Azeméis, estando para breve a abertura de uma nova unidade em Marrocos. No 1º dia deste evento, o seu fundador marcou presença na FEUP, o Sr. Comendador António Rodrigues, que referiu que o grupo está numa fase de expansão, tendo no último ano investido cerca de 140 milhões de euros, prevendo deste modo fazer crescer os atuais 600 milhões de euros de faturação anual. Esta aposta não se ficará por aqui estando prevista a contratação de cerca de 400 pessoas. Foi feito por isso o apelo aos estudantes e recém-graduados para que se candidatem para fazer parte deste grupo nacional de referência.
Findas as sessões de apresentação foi tempo para o almoço, a seguir ao qual foi feita uma visita ao UPTEC. Durante esta visita foram apresentadas as vertentes de atuação deste parque de ciência e tecnologia, bem como os apoios concedidos a estudantes, recém-graduados e investigadores que queiram lançar o seu próprio negócio. Foram ainda apresentados os principais números que traduzem o sucesso dos 10 anos deste centro, comemorados em 2017. De modo a exemplificar casos de sucesso foram feitas visitas a 2 empresas, a AddVolt e a IDEIA.M, tendo sido apresentados os seus produtos e área de atuação, bem como perspetivas futuras.
Mais de 20 workshops diferentes
No 3º dia do ENEEM foi apresentado o conceito da “Indústria 4.0” pelo Engenheiro Gil Sousa, co-fundador da ESI. Este conceito é inerentemente acompanhado por outros, tais como big data, impressão 3D, computação em nuvem, Internet das coisas, realidade virtual, cibersegurança, entre outros, que em conjunto conduzirão à criação de fábricas inteligentes. Durante esta palestra foram apresentados exemplos que incluem estes conceitos, pertencentes ao portefólio de trabalhos desenvolvidos pela ESI para algumas empresas tais como a Amorim Cork, o IKEA Industry e o Grupo Cordex.
Seguiu-se uma palestra sobre “Liderança e Gestão de Equipas”, pelo Engenheiro António Tomé Ribeiro, onde os estudantes se mostraram bastante participativos face à desenvoltura do orador. Este apresentou diversos conceitos entre os quais a distinção entre pessoas de acordo com o seu foco e ritmo, isto é, foco nas pessoas ou em tarefas, e ritmo lento ou rápido, dando então lugar a uma matriz de classificação, sobre a qual os estudantes foram convidados a refletir, e pistas foram dadas acerca de como lidar com os diferentes tipos de pessoas numa equipa aproveitando o que cada uma tem de melhor, entre muitas outras coisas. Era então tempo para o Coffee Break and Networking onde estavam presentes as empresas Fricon, ESI, The Navigator Company, Ramada, Jerónimo Martins e Gislotica.
Com baterias recarregadas, ao final da manhã foi a vez do Professor Paulo Tavares de Castro, muito admirado pelos seus estudantes da FEUP, dar uma palestra com o tema “Fadiga em Estruturas de Aviões”, durante a qual distribuiu exemplares a todos os presentes do seu artigo científico “An overview of fatigue in aircraft structures”, e apresentou uma retrospetiva de alguns dos acidentes de aviação relacionados com a fadiga das estruturas, acidentes esses que impulsionaram como consequência a investigação e principais avanços nesta área do saber. Deste modo, foram apresentadas as diferentes abordagens ao problema da fadiga nos aviões, desde a abordagem “safe-life”, à “fail-safe”, e ainda a abordagem “damage-tolerance”, bem como a evolução das regulamentações, isto é, desde a “Widespread Fatigue Damage” (WFD) até à “Limit Of Validity” (LOV).
Após o almoço, eram muitas as opções de workshops disponíveis em simultâneo, desde a Robótica Colaborativa, Arduino, FabLab: Impressão 3D, da ideia ao protótipo até à Análise de CV’s, Representação Gráfica em Matlab, Plano de Negócios, Operações Básicas de Torneamento num Torno Didático, entre outras. A parte lúdica não foi esquecida, tendo sido realizado um ENEEM Caffé no Edifício da AEFEUP, no qual, além de muita música, seriam sorteados, por exemplo, vouchers da Ryanair através do sorteio de “bilhetes” distribuídos aos estudantes no fim das palestras.
Recorde no número de participantes
Sexta-feira, 4º e último dia de ENEEM, tinha reservada para os mais resistentes uma Free Walking Tour pela cidade do Porto, entre as 10h e as 13h da manhã, à qual se seguia o almoço no edifício da AEFEUP, bem como a sessão de encerramento do encontro.
Este evento foi marcado pelo recorde do número de participantes, sendo metade da FEUP e os restantes provenientes das mais diversas instituições de ensino superior localizadas em Lisboa, Braga, Coimbra, Aveiro e Vila Real, bem como pela excelente organização com atenção ao detalhe, diversas vezes publicamente elogiada pelos representantes das empresas presentes, bem como pelos estudantes em conversas de corredor.
Texto/fotos: Carlos Silva, Joana Gomes
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