O TEDx veio à UP

6 horas, 13 oradores, duas performances musicais, distribuídos por 3 sessões, com cerca de 500 pessoas na plateia. A famosa conferência TEDx voltou à Universidade do Porto no passado dia 18 de fevereiro, numa colaboração entre a U.Porto, o UPTEC, a FEUP, a FEP, as respetivas associações de estudantes e o Santander. Teve como palco o auditório da FEUP.

Fotografia disponibilizada pela organização

 

1º painel de oradores: O apelo comercial ao afeto, a perseverança de um atleta de alto rendimento, a vida desconhecida no Universo e a segurança individual na internet

A 1ª parte desta conferência preenchida pelos testemunhos de Carlos Brito, Gael Santos, Marta Filipa Cortesão, Luís Antunes e pela performance musical de Guilherme Órfão.

Carlos Brito, pró-reitor da Universidade do Porto e pioneiro na área do marketing em Portugal, abordou o facto das marcas hoje apelarem aos nossos sentimentos e gostos pessoais. Deu os exemplos da Apple e da Swatch, duas marcas que investem bastante na apresentação dos seus produtos e são hoje líderes dos seus mercados.

Gael Santos falou depois. Trata-se de um dos atletas mais medalhados de Portugal e um dos melhores desportistas mundiais. Hoje trabalha na área do design mas regressou de Paris, onde reside, para recordar os tempos de desportista de alto rendimento e o que foi preciso para chegar a um patamar tão alto. Aproveitou também para criticar a política desportiva nacional, tantas vezes tendenciosa e favorecedora apenas para o futebol.

A seguir, Guilherme Órfão deliciou a plateia com um pequeno concerto. O aluno madeirense da FEUP tocou várias músicas utilizando instrumentos típicos da sua terra natal, como a viola de arame, com a ajuda de gravações em loop.

Seguidamente, Marta Filipe Cortesão, Mestre em Biologia Celular e Molecular, introduziu mais uma variante no grande tema da conferência TEDx, Evolution. Desta feita, a evolução do conhecimento quanto à possível vida existente no universo. Uma questão que desperta sempre muita curiosidade, e que a humanidade ainda hoje tenta decifrar.

A terminar o 1º painel, Luís Antunes. É investigador na área de segurança, atual diretor do Departamento de Ciência de Computadores da FCUP e também diretor do Centro de Competências em Cibersegurança e Privacidade da U.Porto. Falou de um tema que diz respeito a todas as pessoas que usam a internet como ferramenta de lazer e de trabalho: o valor da privacidade dos dados pessoais. Mostrou como as empresas de tracking conseguem saber os dados mais pessoais apenas por saberem as nossas pesquisas e que a humanidade produz quantidades cada vez maiores de dados online.

 

2º painel de oradores: um arquiteto que fugiu à guerra, uma voz pelos refugiados, a distribuição da riqueza e a tecnologia ao serviço dos cegos

Tal como planeado pela organização do TEDx, a 2ª sessão teve como propósito maior a reflexão (a nível individual e em sociedade) sobre alguns dos problemas maiores que assolam o planeta.

Mas antes, mais uma atuação musical. O grupo de Danças Etnográficas do Orfeão Universitário do Porto, que curiosamente vem do Minho, trouxe alguns cantares, danças e trajes típicos da região e enfatizou no final a necessidade do país em conservar a tradição enquanto avança para o futuro também.

Após a atuação, Hasan Mansour subiu ao palco para contar a sua história. Trata-se de um arquiteto licenciado em Damasco (Síria) e que recentemente acabou o mestrado em Planeamento Urbano na Universidade do Porto, ao abrigo da fundação Jorge Sampaio. Hasan lembrou a todos os presentes que é preciso reconstruir países como a Síria. Não só fisicamente como reconstruir toda uma nova sociedade viva e pulsante, que atraia de novo quem saiu fugindo da guerra.

Seguiu-se Cátia de Carvalho, Mestre em Psicologia do Comportamento Desviante pela FPCEUP. A sua tese de mestrado foi sobre os refugiados que vivem em campos e foi também o tema da sua intervenção. Contou à plateia o que viveu e o que viu no campo de refugiados de Molé, na República Democrática do Congo, os sonhos e a realidade daquelas pessoas e os desafios, não só da parte dos refugiados de sobreviver muitas vezes sem comida e sem água, mas também das sociedades ocidentais de solucionar este problema e de garantir que estas pessoas voltem a ter a vida digna que tiveram de abandonar.

O 3º orador foi Martim Avillez Figueiredo. É administrador do Startup Discoveries, sócio da Fábrica de Startups e ainda Mestre em Teoria Política pela Universidade Católica. Escreveu também o livro “Será que os Surfistas devem ser subsidiados?”. No seu discurso, defendeu a teoria do rendimento garantido. Ou seja, todas as pessoas devem receber uma quantia de dinheiro simplesmente para desempenharem uma tarefa à escolha de cada um.

Depois falou João Barroso. É investigador no INESC Tecnologia e Ciência e Professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Licenciou-se em Engenharia Eletrónica e tirou o Mestrado em Engenharia Eletrónica e Telecomunicações. O que ele tinha a apresentar era um projeto experimental – “Project Tango” – que tem como objetivo auxiliar as pessoas cegas ao nível geográfico. À medida que anda, a pessoa cega consegue saber, graças à resposta de voz do aparelho, pontos de interesse como escadas, elevadores ou casas de banho.

A terminar o 2º painel, o TEDx contou com a participação do professor e investigador da FDUP, Jorge Quintas. Com um jeito inato para contar histórias, Jorge Quintas falou de um tema bastante presente na nossa sociedade: as drogas. Desde o início da introdução de substâncias como a cocaína ou a marijuana a nível medicinal até aos anos 20, época em que os governos começam a proibir e a penalizar o consumo, ou os anos 60, altura de revoluções pacíficas organizadas por jovens (os hippies), ou os dias de hoje em que os estados recomeçam a despenalizar e legalizar o consumo e venda de opiáceos. Antes de sair, deixou uma lição de moral: nenhuma sociedade se degrada com as drogas; degrada-se pelo desconhecimento e preconceito.

 

3º painel de oradores: o estudo do movimento humano, os estragos históricos do armamento pesado, o desperdício de comida e os grandes desafios de desenvolvimento social a nível mundial

 

 

A última sessão do TEDx UniversityofPorto foi como que uma continuação da anterior, no sentido em que se continuaram a abordar temas sensíveis à sociedade.

João Paulo Vilas-Boas, Professor Catedrático de Biomecânica da FADEUP e diretor do LABIOMED – Laboratório de Biomecânica da Universidade do Porto, abordou a evolução já concretizada do estudo do movimento humano e as dinâmicas dos músculos com atletas de alta competição. A apresentação terminou com uma apresentação de dança e música com um fato especial e um “avatar” que reproduzia em computador os movimentos da dançarina. Uma tecnologia parecida com a usada nos videojogos.

Seguidamente, subiu ao palco Clare Conboy. Desde fevereiro de 2015 que trabalha no “The Acronym Institute for Disarmament Diplomac e licenciada em Escultura e História da Arte no National College of Art & Design. Clare utilizou o seu espaço no TEDX UniversityofPorto para alertar a sociedade de um problema crónico e com muita história no último século: o armamento pesado. Sejam de origem química, atómica ou nuclear, todas elas causaram um grande número de mortos e feridos permanentes. Para espanto da plateia, Clare afirmou que existe um documento em que vários países na Europa manifestam intenções de negociar o término completo da produção e utilização de armamento pesado. Nesse documento, não estão nações como o Reino Unido ou Portugal.

A penúltima oradora do dia foi Margarida Cruz. Tem uma carreira na área da gestão e da sustentabilidade ambiental e é dinamizadora em Matosinhos e no Porto da Fruta Feia, organização que luta contra o desperdício de fruta das grandes superfícies comerciais e apela ao público para contrariar o desperdício de comida. O pitch de Margarida baseou-se nisso mesmo. Todos os dias, segundo os seus dados, cerca de metade da comida produzida nos países industrializados é deitada ao lixo. A mudança de paradigma começa no comportamento individual, em que cada um de nós compra a fruta que melhor aspeto tiver e rejeita a aparente “estragada”. A organização interessa-se também pela produção que é rejeitada pelos controlos de alto nível dos supermercados, e vários testemunhos de agricultores mostraram que a Fruta Feia lhes salvou o negócio.

A terminar, Sérgio Guedes Silva encerra a última sessão do dia. É formado em Engenharia Mecânica e em Gestão e Presidente-Fundador do Conselho do Gabinete de Ação Social do Porto. Ao TEDx, Sérgio veio contar a sua história e referir quais os grandes desafios que a sociedade civil enfrenta hoje: pobreza, fragilidade social, insegurança, desigualdade, sustentabilidade e falta de valores morais. Para estes problemas, as soluções teriam de se focar em qualidade, sustentabilidade, integração, coerência, colaboração e trabalho.

À saída dos painéis, as pessoas mostraram-se satisfeitas com o evento e pelas atividades propostas pelo staff. Do lado da organização, houve também o sentido de dever cumprido. (declarações estão disponíveis em baixo)

 

O regresso do TEDx UniversityofPorto está previsto para o próximo ano.

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