(SPOILERS!!!) Game of Thrones (S06/Ep.1); The Red Woman
Ao contrário das estações em Westeros, a nova temporada de Game of Thrones chega aos ecrãs do mundo conforme esperado e promete oferecer mais uma ronda de mortes inesperadas, nudez gratuita e um Inverno que ainda está para chegar.
Esta nova temporada é de particular importância visto que esta é a primeira vez que tanto fãs do programa de televisão como leitores da série ”Uma Canção de Fogo e Gelo” irão desfrutar de mais um capítulo dos conflitos dinásticos das terras dos Ândalos com o mesmo nível de sabedoria e expectativa para o futuro, pois é a partir deste momento que oficialmente a série de televisão está à frente dos livros. Confesso que, como leitor e estudante das teorias que poderão tornar-se realidade do futuro, trata-se de algo de inesperado visto que tem sido algo de confortante ver a série com o conhecimento prévio dos livros e ter um sentimento de superioridade vazia sobre as pessoas que viam o Casamento Vermelho pela primeira vez. Visto que isto é território novo para toda a gente, eu não irei fazer comparações entre os livros e a série, preferindo analisar esta obra em singular e talvez fazer uma previsão e comentário da temporada com aquilo que se sabe dos livros numa altura posterior.
Sinopse
Esta estreia, intitulada de ‘‘The Red Woman’’ (A Mulher Vermelha), dedica o seu tempo a seguir as consequências dos eventos do final da temporada anterior (R.I.P. Stannis Baratheon) enquanto que estabelece também os eventos que irão despoletar a nova ronda de histórias pós a Guerra dos Cinco Reis. O episódio abre na Muralha de Gelo, com aquela que tem sido o mais chocante dos falecimentos da temporada anterior: a morte do Comandante da Vigília da Noite Jon Snow. Os amigos de Snow, sob o comando do Cavaleiro de Cebolas Ser Davos Seaworth e com a mais recente adição do lobo Ghost, ajudam a trazer o corpo dele para dentro do forte e preparam-se para se defender dos seus irmãos de armas, agora sob ordens dos cabecilhas do assassinato de Snow, mais notavelmente Ser Alliser Thorne. Enquanto isto ocorre, um dos fiéis de Snow, o Dolourus Edd, consegue passar despercebido para além do domínio da Vigília de forma a procurar ajuda para seus irmãos-de-armas.
Por volta da mesma região geográfica, Ramsay Bolton contempla a morte da sua amante que foi atirada de um precipício por Sansa e Theon, terminando a sua angustia com a ordem de lançar o corpo dela para dar de comer aos cães que tratava. Pouco depois ele tem uma discussão com o pai que subtilmente adiciona ao falhanço de Ramsay depreciando a vitória de seu filho contra Stannis e relembrando que, sem a Sansa, as possibilidades de ele suceder ao pai irão cair subitamente. De forma a assegurar os seus direitos da sua linha de sangue, Ramsay manda uma equipa de soldados e cães-de-caça de forma a encontrar Sansa e Theon. Esta equipa consegue encontrar e capturar os fugitivos, mas são mortos por Brienne e Podrick que prestam fealdade a Sansa.
Mais para sul em King’s Landing, a Rainha-Mãe Cersei, depois do seu ordálio na Caminhada da Vergonha, é mais uma vez confrontada com sofrimento através da descoberta da morte por envenenamento da sua filha Myrcella. Não sendo capaz de lidar com este novo acontecimento, ela refugia-se por detrás da profecia da Bruxa do Bosque que lhe disse que todos os seus filhos irão morrer antes dela. Jaime tenta confortá-la, prometendo que independentemente daquilo que lhes foi tirado, que irão recuperar tudo e possuir o resto. Entretanto a Rainha Margery continua a ser pressionada para dar testemunho de que o seu irmão é culpado de homossexualidade de forma a que este seja executado.
Em seguimento disto, frescas do seu assassinato bem-sucedido de uma Princesa Real, Ellaria e as Serpentes de Areia procedem para o assassinato do Regente de Dorne, o Príncipe Doran, e o seu herdeiro Trystane. Elas justificam esta ronda de mortes sob o pretexto de que Doran tem sido um líder fraco, algo que os guardas do palácio concordam enquanto vêm o seu soberano morrer.
Transitando agora para o continente de Essos, vemos que Tyrion e Varys estão a discutir o estado de caos em que Meereen se encontra após a partida de Daynerys em Drogon e o ataque coordenado dos Filhos da Hárpia na temporada anterior, observando que estão a defrontar-se com um inimigo novo com estratégias e táticas alígenas, mas observam que, devido ao nível de coordenação e precisão do ataque, os Filhos da Hárpia devem estar a receber ordens de uma figura central. A discussão deles é subitamente interrompida quando descobrem que a frota que estava ancorada em Meereen é reduzida a cinzas num caso de fogo posto. Para além dos limites da cidade, Daario e Jorah procedem numa missão à procura da sua Rainha e trazê-la de volta so seu trono. O que eles não sabem é que Daynerys foi capturada por Khal Moro, um dos antigos aliados de seu falecido marido Khal Drogo. Face ao estatuto de Daynerys como viúva de um Khal, Moro recusa levá-la de volta a Meereen, dizendo que ela deve observar as tradições Dothraki e voltar para a capital da sua nação, Vaes Dothrak, de forma a juntar-se à Dosh Kaleen, o corpo de matriarcas e viúvas do povo Dothraki.
Mais para o fim, reencontramo-nos com Arya, agora cega e a pedir esmola nas ruas de Braavos, a tentar ultrapassar este novo teste que a Casa de Negro e Branco impôs sobre ela. De forma a adicionar ao sofrimento dela, a rapariga que tem andado a atormenta-la ainda antes da sua cegueira, retorna de forma a desafia-la em combate, que ela perde redondamente.
Observações e Conclusões
Como abertura para mais uma temporada deste programa, este episódio cumpre perfeitamente os requisitos de fechar as histórias da temporada anterior, ao mesmo tempo que estabelece os novos eventos que irão caracterizar as personagens nestes próximos dez episódios. As partes mais notáveis deste episódio são as cenas que ocorrem na Muralha e em King’s Landing. Os eventos que seguem o assassinato de Jon Snow parecem-me um desenvolvimento perfeitamente natural depois deste acontecimento marcante e não tenho dúvidas que quando chegar a versão da página que ocorrerá exactamente da mesma forma.
Também devo dizer que, apesar da natureza um bocado simplista de subitamente todos os irmão da Vigília da Noite decidirem que o Thorne está correcto, o discurso o do rival de Snow foi bem escrito e bem executado pelo actor, dando peso às suas palavras e dando a ideia que, apesar de a Vigília confiar na pureza das acções e espírito de Snow, também estão cientes que são tempos difíceis e as decisões do seu Comandante têm sido prejudiciais para a sobrevivência da sua organização e que uma pessoa com a experiência e temperamento directo de Thorne foi justificado nas suas acções.
Do lado dos fiéis de Snow, Davos continua a ser uma personagem que dá gosto em ver integrando-se de forma natural entre os irmãos da Vigília e tornando-se a escolha óbvia para dar as ordens nesta situação crítica. Como última observação para a Muralha, toda a gente irá estar a falar da revelação de que a Melisandre é, na realidade, uma senhora idosa que utiliza a sua magia e amuleto de forma a esconder a sua aparência decrépita. Isto é uma revelação interessante que acho que informa a personagem de uma forma positiva, pois sugere um certo narcisismo por parte dela e um nível de inteligência ainda mais subtil por reconhecer que uma aparência de juventude a irá dar uma vantagem em inserir-se em círculos de poder, para além de adicionar à aura de mistério por abrir questões acerca da natureza dos poderes e magia do Culto de R’Hllor e o seu clero.
Quanto às cenas em King’s Landing, fiquei muito satisfeito em ver a transformação que Cirsei teve após a Caminhada da Vergonha e a forma como ela se sente psicologicamente afectada, não só pelos eventos em si, mas também pela realizaçãoo da futilidade das suas acções face à profecia de tempos passados. A força desta cena deve-se completamente aos talentos de Lena Headey e Nikolaj Coster-Waldau.
Infelizmente, quando passamos para a parte negativa deste episódio (e por extensão do resto do programa para a frente) fico triste em reportar que as sequências em Dorne continuam a ser atrozes como o costume. Em vez de reforçar esta parte da narrativa com a intriga e complexidade que dá tanta força às melhores partes do programa, os responsáveis decidiram deitar tudo isso fora e optar pela estratégia de ‘‘os latinos são gente que está sempre a funcionar a 100% paixão e 0% lógica’’. Eu não vou estar a dizer que não existe algo de verdade por detrás desse pensamento (nós portugueses aceitamos Camões como expoente máximo da nossa cultura e grande parte da sua obra era um desfile de queixas e exaltações acerca de uma panóplia de mulheres), mas é extremamente desapontante e idiota que, depois do falhanço de adaptação que ocorreu na temporada passada, os produtores não aprenderam nada e preferem esconder-se atrás de estereótipos em vez de dar o mesmo tratamento e cuidado que fizeram as intrigas e maquinações de King’s Landing tão emocionantes de se ver (quer dizer, ainda dão-se ao trabalho de simbolicamente ter a única voz de razão e mente inteligente em Dorne ser morto às mãos das pessoas mais emocionais e irracionais do continente de Westeros).
Pessoalmente eu vejo tais shortcuts como sinal de preguiça e falta de qualidade num programa que criou a sua fama através de personagens inteligentes e subterfúgios de mestre, mas reconheço que, para um propósito de contar uma história mais coesa e fácil de seguir, talvez algo deste género acabará por ser beneficial a longo termo para o formato televisivo, mas suspeito que, quando estivermos a fazer uma retrospectiva do programa (e até mesmo agora), as sequências em Dorne irão ser lembradas como B-plots de qualidade inferior porque preferem seguir a lógica de Conan o Bárbaro em vez de Tywin Lannister.
Agora teremos que ver de que forma é que acções tão violentas e usurpadoras irão abalar a já frágil estabilidade dos Sete Reinos na semana seguinte. Até lá, não se esqueçam que a Noite é negra e cheia de Terrores.
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