Editorial Nome a Votar – Iberanime Porto 2015
Dado os meus anos formativos na China, a minha propensão em termos de ‘‘Pop Culture’’ teve sempre uma inclinação mais ocidental (por outras palavras, americana). Esta direcção era feita de forma a permitir o cultivar de um panorama cultural mais diverso, criando um ”offset” para cenário predominantemente oriental em que estava inserido.
Depois da minha transição para Portugal, esperava que, na minha procura de materiais e ajuntamentos de um cariz mais ‘‘nerd’’, tivesse encontrado também uma visível pegada da influência cultural americana (ou francesa) nas sensibilidades da juventude e mentes criativas portuguesas. Porém, a minha busca resultou numa descoberta tanto inesperada como familiar.
Antes de termos uma ComicCon aqui em Portugal, na qual se dá o placo ao cinema, TV e BD anglo-saxónica, vim a descobrir que era a cultura japonesa que marcou Portugal indelevelmente, nomeadamente através do anime e manga. Embora familiarizado com estas vertentes culturais, confesso que só muito recentemente é que me inseri neste meio (apesar da presença de Toonami nos meus anos formativos). Embora tivesse descoberto a ligação em comum através personagens da Liga da Justiça, grande parte das vezes eram as aventuras de Goku e Usagi que influenciavam as sensibilidades das mais recentes gerações portuguesas.
E não existe melhor lugar para observar esta influência em acção do que na nossa iteração local mais recente do Iberanime no Centro Multiusos em Gondomar. De todos os eventos que resultaram da ressurgência moderna de Pop Culture, foi um dedicado ao anime e manga que teve o privilégio de ser o primeiro a ganhar dimensão e reconhecimento para além de públicos alvos mais restritos e pontuais. É através deste evento que temos prova que o interesse nesta cultura, embora pareça disperso por vezes, está saudável e a florescer em solo português. Como tal, temos a presença de várias lojas a vender memorabilia referentes ao material de visualização e leitura, o decorrer de vários seminários educativos introdutórios às ferramentas necessárias à contribuição para o ciclo criativo e demonstrações de diversas facetas da cultura japonesa, atenciosamente organizadas por vários clubes portugueses e a disponibilidade da Embaixada Japonesa, cujos esforços de divulgação do seu país honram a curiosidade portuguesa.
Enquanto uma pessoa de fora vê Portugal e retira uma imagem de país mediterrâneo, devidamente marcado e moldado pelos séculos romanos e católicos, basta entrar no salão principal deste evento e passar pelos palcos que, de repente, transforma-se mais remanescente do ambiente a que estava habituado passeando as ruas de Macau. Por mais que, logicamente, seria de esperar que um evento deste cariz incentiva-se, ao máximo, as actividades e interesses de um lugar diferente, existe algo de profundamente bizarro e mágico ver portugueses como eu a darem o seu máximo ao karaoke com músicas japonesas e a entusiasmarem-se quando chega tempo de fazer o Para-Para Dance.
É fascinante observar que, com o advento da internet e a possibilidade de procurar por interesses para além daqueles que são imediatamente disponíveis ou visíveis no dia-a-dia, Portugal parece ter-se enamorado com este canto específico da cultura mundial. O que é que o anime e manga suscita de tão específico na nova geração de portugueses? Será a arte e a estética? A panóplia de diferentes histórias contadas nestas obras? A abundância de personagens coloridas e interessantes? Talvez seja o ponto de vista e sensibilidade de um povo tão diferente ao nosso? Poderá ser a associação inerentemente romântica de uma terra longínqua, pintada de pétalas de cerejeira sob figura imponente do Monte Fuji? Ou talvez trata-se de uma reflexão moderna do desejo que levou com que outros portugueses passados atravessassem paragens desconhecidas de forma a chegar a esse destino mítico que agora conhecemos como o Japão?
De qualquer das formas, é claro que sempre houve um elo invisível e indescritível entre Portugal e o Oriente e acredito que esta mais recente celebração e exploração da cultura japonesa consiste numa continuação desse elo. Agora que chega um futuro que irá ser dominado pelo Super-Herói e o Jedi, questiono-me se esta influência e marca irá continuar a florescer, ou até mesmo sobreviver às gerações futuras. Até chegar um dia na qual se possa julgar devidamente esta questão, so consigo dizer com certeza que já vi tanto piratas como ninjas e saiyans e, com a inclusão de novas personagens e histórias no desenho e letra nipónica, as fileiras continuam a crescer e a evoluir sem falta.
Editorial escrito por Tiago Garcia
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