Reportagem Indouro Fest- Serra do Pilar (2 e 3 de Maio)
No passado fim de semana, mais precisamente nos dias 2 e 3 de Maio, realizou-se a 1ª edição do Indouro Fest, que se destacou por uma programação alternativa, com especial atenção para bandas pouco conhecidas mas com bastante potencial. O festival dividiu-se em dois palcos, um deles localizado no Jardim do Morro e com acesso gratuito, que contou apenas com bandas Portuguesas e o palco principal, apenas com acesso pago.
O local escolhido para o palco principal foi a Serra do Pilar, em Gaia, onde se avista talvez uma das melhores paisagens do Porto, e que contém como pano de fundo o Rio Douro e a Ribeira, o que seria um dos pontos mais atrativos do festival. No entanto, o mau tempo que se fez sentir ao longo dos dois dias, bem como os cancelamentos de dois dos cabeças de cartaz devido à greve da Tap, os Britânicos Toy (que iriam atuar no segundo dia), e os também Ingleses Clinic (atuariam no primeiro dia), revelaram-se fatores muito traiçoeiros para o festival.
O primeiro dia do Festival iniciou-se ainda sem chuva mas com muito pouco público. Sem qualquer tipo de aviso acerca da alteração do alinhamento do festival pela organização, os primeiros a atuar foram os Portugueses Rainy Days Factory, formados em 2010 e que contam com três elementos da ex banda Diva, banda de rock Portuguesa dos anos 90. Segundo Óscar e Pedro, dois desses elementos, a recetividade do público do Norte, em especial no Porto é muito superior ao público Lisboeta, e a grande razão pela qual fazem música é porque, mais que um passatempo, é uma paixão. Foi um bom concerto, marcado pelo estilo sombrio da banda, que contou com músicas como ‘Speak Now’, dedicada a todas as mulheres presentes e ‘Sorry’ .
Seguiram-se os Alemães The lost Rivers, que nunca conseguiram cativar o pouco público presente, e que se apresentaram com um rock psicadélico pouco inovador e demasiado repetitivo. A interação com o público foi praticamente nula e por isso, não acrescentaram nada de novo ao festival.
Pelas 20.30 horas, ao escurecer da noite, surgiram os gregos Electric Litany, que proporcionaram o melhor concerto até ao momento, acompanhados pelo seu pós-punk e pelas suas músicas progressivas. Destaque especial para o vocalista Alexandros Miaris, pela sua versatilidade, ora acompanhado pelo teclado ou pela guitarra, soube ser o motor da banda e levar músicas como ‘Enemy’ ou ‘Tear’ a arrancarem alguns aplausos, numa noite muito fria.
Pouco depois das 22 horas, surgiram em palco os Franceses The Limiñanas, quando se fazia sentir muita chuva, e que iniciaram o concerto com a fantástica ‘DownUnderground’. Num estilo indie rock, passando pelo pop Francês dos anos 60, e que fez lembrar La Femme, o concerto acabou por ser tornar algo repetitivo, sendo que bem recebido pelo público. Entre o Inglês e o Francês, o destaque vai para músicas como ‘Je ne suis pas trés drogues’ e ‘Salvation’.
Mas, seriam os outros Franceses presentes no cartaz, os Tristesse Contemporaine , a aquecer verdadeiramente a noite. Maik, o vocalista deste trio, manteve sempre uma empatia muito forte com o público, e prometeu manter as pessoas acordadas. Sonoridades marcadas pelo hip-hop e o eletro, e músicas como ‘Daytime Nightime’ e ‘I didn’t know’ elevaram bem alto o nome deste trio Francês, que esperemos ver de novo em Portugal.
Seguiram-se os Ingleses The Lucid Dream, que suscitaram um dos melhores concertos da noite, carregado por grandes ‘malhas’ e por um rock psicadélico efusivo. Uma atuação cheia de atitude, e com muita garra.
Já perto das duas da manhã, e quando já muita gente tinha ido embora, dá-se uma das mais esperadas atuações da noite, liderada por João Vieira, ex-membro dos x-wife, e que conta agora com o seu novo projeto, White Haus. Nem os pés encharcados, nem o vento presente, fizeram os poucos resistentes ficar imóveis, e o destaque vai para músicas como ‘Far from Everything’ e ‘All I ever wanted’ , ambos singles do albúm lançado ano passado. São projetos como este que fazem a música Portuguesa valer a pena.
O segundo dia do festival ficou marcado por ainda mais chuva e por muitos impermeáveis. A grande atração seria a banda Inglesa Yuck, após o cancelamento de Toy. Iniciou-se com o projeto Português Os Príncipes, constituído pelos Portuenses Maria Mónica no baixo e Jorge queijo na guitarra e bateria, para praticamente ninguém presente. No entanto, destaque para as influências de Linda Martini e um pouco de ornatos de violeta, que fazem deste projeto algo a ter em conta no futuro.
Seguiram-se os Britânicos Whistlejacket, que contaram com um pouco mais de público mas com a presença constante da chuva. Marcados pelo Indie rock psicadélico, denotam-se influências dos ‘ The horrors’, ‘Toy’ ou ‘Temples’. Com dois Ep’s lançados em 2014, canções como ‘ March Hare’, ‘Mr Melon’ ou ‘Melt’ fizeram vibrar a plateia. Uma banda que promete e que com certeza pisará palcos maiores em terras Lusitanas.
Pelas 19 horas dá-se um dos momentos mais altos do festival, com a entrada dos Ingleses Yuck, que estiveram presentes no Festival Paredes de Coura, no verão passado. Para cerca de uma centena de pessoas, a atuação fica marcada pela frase do guitarrista, onde refere que ‘O porto é melhor que Lisboa’ , e disso nós não temos dúvidas. Num concerto recheado de temas de sucesso como ‘Get away’, ‘Rebirth’, ‘ Middle Sea’ ou ‘The wall’, destaque ainda para um cover da música ‘Age of Consent’, dos New Order e uma nova música, a constar no próximo disco, que poderá ser lançado ainda este ano.
Seguiram-se os britânicos Lola Colt, compostos por três raparigas e três rapazes, e que apresentaram assim o seu disco de estreia ‘Away from the water’, lançado o ano passado. A majestosa voz de Gun Overbye, fez-se acompanhar pelos demais instrumentos da banda, com especial destaque para a percussão e para os movimentos sensuais e dançantes da teclista, que se mexia ao som de cada batida, proporcionando um espetáculo dentro do próprio espetáculo. Um concerto muito bem conseguido, marcado por temas como ‘Heartbreaker’ e ‘ Away from the weather’.
No lugar de Toy, atuaram os Portugueses Mal Content, formados por Sérgio Costa, Filipe Pereira e Jorge Oliveira, e que tocam um rock alternativo, assinalado por influências dos My bloody Valentine, Black Rebel Motorcycle Club e até Sex Pistols. ‘Riot sounds effect’ é o segundo albúm da banda e que viria a servir de mote para um bom concerto, onde se destaca a consistência e maturidade dos elementos da mesma.
Para último lugar ficou a ‘cereja no topo do bolo’, com os Britânicos British Sea Power, a proporcionarem o melhor concerto do festival. Trazendo na bagagem 6 Ep’s e apenas um albúm, a missão foi remarcar os grandes êxitos da banda, passando por temas como ‘Waving Flags’, Machineries of joy’, ‘Man of Aran’, e ‘Living is so easy’. Um concerto épico e que nem a chuva arrefeceu.
A próxima edição do Indouro fest, a realizar em2016, já está confirmada pela organização do festival, Ilha dos flamingos. Apesar do escasso público presente, do mau tempo e das greves, a organização deve retirar algumas ilações para que no próximo ano tudo corra melhor. No entanto, destaca-se a presença de boas bandas, com estilos diversificados e que com certeza darão que falar.
Por: Ana Carvalho
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