NOS Clubbing – 11 de Outubro de 2014, Casa da Música
De quando em vez, a emblemática Casa da Música do Porto acolhe nas suas salas e corredores o NOS Clubbing (era Optimus mas acabou-se), misturando um sem-número de bandas e DJs, oriundos de diferentes tribos e estilos, numa autêntica celebração da diversidade. Com a presença de projectos tão queridos do nosso público como Rodrigo Amarante ou Linda Martini, a Engenharia Rádio não pôde deixar de dar um saltinho à rotunda da Boavista.
Pouco passava das 23h00 e já estávamos a deliciar-nos com a doçura das canções de Rodrigo Amarante, que até há bem pouco tempo era um ilustre desconhecido (pese embora a presença na mítica banda brasileira Los Hermanos, do agora quase portuense Marcelo Camelo). Após a sua actuação encantadora no mesmo palco, mas em condições bem diferentes (primeira parte de Devendra Banhart), a sua reputação nas terras de Amália disparou. Sozinho, apenas de violão pendurado, tivemos um Rodrigo Amarante bem mais espevitado e confiante, assim como um público bem mais conhecedor da sua obra, agraciando o trovador fluminense com sorrisos e cantorias. Intervalando os seus temas com declarações de amor e obrigados, assim como algumas estórias ou observações, como as queixas ao demasiado fumo de palco ou a sua insistência com os técnicos para iluminarem o público, já que o brasileiro se encontrava incrédulo e queria ver com os seus olhos a assistência, que era da boa e do melhor. Em “Irene” ou “Tardei” tornou-se bastante claro o culto já consistente que segue Rodrigo Amarante, bem diferente do nosso Marante. Em espanhol, português ou inglês, a voz amarga de Rodrigo convive de forma aconchegada com o açúcar dos seus acordes.
Sacrificando o sprint final do “show di bola” na sala Suggia, fomos até à Sala 2 revisitar os PAUS, a trupe da dupla bateria lá de baixo. Notando-se alguma falta de entrosamento (nomeadamente entre Hélio Morais e Quim Albergaria), o concerto pareceu aquém do esperado, dum projecto que já começa a perder algum do efeito novidade obtido aquando da edição do EP “É Uma Água” em 2010. Claro que ainda havia uma considerável massa humana a agitar o esqueleto, mas o ambiente geral parecia padecer de uma certa apatia. É certo que temas como “Bandeira Branca” ou “Deixa-me Ser” são demasiados gingões para um moshpit, mas agitados demais para parar de abanar a perna, e esse intermédio por vezes parece falhar em certos ambientes. Não nos pareceu a melhor prestação que já vimos do quarteto, nem tão pouco a sala e momento certo. Para clarificar num futuro próximo.
Após uma visita ao exterior, onde algumas dezenas de pessoas apanhavam ar e fumavam um cigarrinho ao abrigo da imensa chuva que se fazia sentir, tempo para regressar à sala Suggia, onde os irrequietos Holy Fuck (não confundir com os portuenses Holy Nothing nem com os Holy Ghost! da DFA) disparavam para todos os lados o seu rock com contornos bem electrónicos. Sempre a vibrar ao andamento da música, alterando músicas puramente instrumentais com algumas vocalizações, os meninos do Canadá certamente sairam da Casa da Música com mais alguns fãs, fruto de um concerto com a quantidade de ingredientes certa, e também graças à transversalidade de influências que o projecto iniciado por Graham Walsh e Brian Borcherdt apresenta ao vivo. Desde Kasabian a LCD Soundsystem, foi possível ouvir, aqui e ali, de tudo um pouco, mas sempre com alguma personalidade muito própria e um desprezo pelas artificialidades que por vezes são naturais em concertos: com os Holy Fuck, tudo era contido mas sentido, e essa abordagem mais directa à música foi totalmente do nosso agrado. Numa das poucas interacções com o público, agradeceram a estreia num tipo de eventos que para eles era único, e apesar do vai-e-vem de gente que passou pela sala (o que foi um pouco irritante), os que ficaram na sua companhia deram um banho merecido de palmas ao quarteto vindo de Toronto.
Ao mesmo tempo, na Sala 2, tocavam os Linda Martini, numa nova tour, mas sempre com vontade de revisitar os bons velhos amigos do Porto. Talvez seja o número demasiado grande de concertos destes moços do sul que já tive a oportunidade de assistir, ou talvez seja devido ao facto de que a última vez que os vi, no Maus Hábitos, tenha sido um concerto bastante particular, mas a verdade é que este em particular me pareceu algo cinzento. A atitude estava lá, as músicas também, mas a própria banda pareceu revelar algum cansaço de estrada, ou talvez a hora adiantada e o próprio ambiente do Clubbing possa ter implicado outros abatimentos. Contudo, sala praticamente cheia a apreciar uma das maiores bandas rock nacionais da actualidade, onde a forte mistura de gerações em frente ao palco demonstra que, de facto, não são só os miúdos que consomem o seu arsenal de canções umas vezes letárgicas, outras aceleradas. Depois disso ainda havia muito mais para ver, mas a vossa parelha de repórteres já sonhava apenas com a sua caminha. Até à próxima, Clubbing!
Texto: Tiago Magalhães
Fotografia: Manuel Magalhães
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