CineCafé AEFLUP – “Paths of Glory” (1957)
O Departamento Cultural da AEFLUP programou para este mês de Outubro um ciclo de cinema sobre o tema da guerra. A primeira sessão teve lugar ontem, tendo sido exibido “Paths of Glory” de Stanley Kubrick, e nas próximas quartas-feiras, sempre às 21h30 no Anfiteatro Nobre da FLUP, esperam-nos “Grave of the Fireflies”, de Isao Takahata, “A Infância de Ivan, de Andrei Tarkovsky, e “Persepolis” de Marjane Satrapi. (evento no Facebook)
“Paths of Glory”, adaptação do romance homónimo de Humphrey Cobb, iniciou o ciclo com um retrato das relações de forças internas no exército francês durante a Primeira Guerra Mundial, cenário pouco comum para um filme do final dos anos 50. Kirk Douglas, que quatro anos mais tarde juntar-se-ia de novo com Stanley Kubrick em “Spartacus”, dá vida a um Coronel Francês, Dax, que recebe ordens dos seus superiores para tomar de assalto uma posição estratégica do exército alemão, cuidadosamente alcunhada de Formigueiro. Apesar de serem esperadas mais de 50% de mortes e da fortificação alemã estar numa posição de grande vantagem, como aponta Dax, o ataque prossegue, e conforme esperado revela-se um desastre. Parte do regimento não chega sequer a sair das trincheiras devido ao constante disparar das armas automáticas inimigas e os soldados que iam na frente do ataque vêm-se forçados a bater em retirada. Cego de raiva, o General responsável ordena um bombardeamento das próprias posições, encontrando da parte do capitão responsável por tal tarefa uma recusa. Assim, constitui um tribunal marcial para julgar 3 soldados, escolhidos por cada responsável de batalhão recorrendo a motivos pessoais ou a sorteio aleatório. Por esta ocasião é notória a mudança brusca de estética, em que contrasta a violência e a escuridão do campo de batalha com o aprumo das instalações dos oficiais, onde decorre o julgamento. Dax assume o papel da defesa, vendo negados os direitos dos réus e ignorados os procedimentos regimentais. Os três soldados acabam por ser condenados e fuzilados, numa prática que pelo seu absurdo e aleatoriedade se assemelha à dizimação no exército romano, quando se sorteava um em cada 10 soldados para serem executados como exemplo.
Apesar do desempenho de Kirk Douglas e do perfeccionismo de direção que caracteriza Kubrick – basta ver que neste filme, como em tantos outros do realizador, existem cenas que exigiram mais de 60 takes – este não é dos seus filmes que mais ficou para a história. Quando Douglas afirmou que não precisava de esperar 50 anos para constatar a permanência do filme na memória colectiva, não adivinhava certamente que apenas 7 anos depois o mesmo realizador se reinventasse em “Dr. Strangelove” ou em “Clockwork Orange” ou em cada um dos seus filmes. Kubrick era um perfecionista e foi mestre, e consequentemente referência, em cada género de filme a que se dedicava. Estabeleceu a bitola para ficção científica com “2001: A Space Odissey”, para adaptação histórica com “Barry Lyndon” e para thriller com “The Shining”, para citar apenas alguns exemplos. Já no género de filme de guerra, o seu maior contributo é com “Full Metal Jacket”, o seu penúltimo filme, o derradeiro retrato da transformação forçada dos jovens americanos no Vietname. “Paths of Glory” não deixa de ser um bom filme por causa disso, mas não tem a assinatura Stanley Kubrick muito visível, talvez por não ter ainda tempo de a ter desenvolvido entre 1951 e 1957, espaço de tempo em que realiza 7 filmes, e revelando a sua genialidade total nos 42 anos seguintes em que faz 9 filmes.
Na próxima quarta-feira, dia 15 de Outubro, não percam “Grave of the Fireflies”, um filme de animação japonês que retrata a luta pela sobrevivência de dois irmãos durante a Segunda Guerra Mundial.
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