Reportagem – JP Simões | Casa das Artes de Famalicão | 22.02.2014
JP Simões trouxe à Casa das Artes o seu mais recente “Roma”, o seu terceiro e variadíssimo álbum a solo. Tendo em conta as muitas sonoridades ouvidas, e numa noite em que JP seria acompanhado pela sua banda completa e por um espetáculo multimédia, criado por Luís Lázaro especialmente para estas noites, as expectativas eram muitas. JP explorou sonoridades tão variadas como o Afro-Beat, o Samba, e o Jazz, cantando em várias línguas, num disco que se revelou bastante eclético, restando a dúvida de como se traduziria ao vivo.
A carreira de JP espelha a muita curiosidade do mesmo em relação aos vários estilos musicais. Roma foi o culminar desse aspecto tão seu, e a noite na Casa das Artes foi uma experiência que nos levou aos quatro cantos do mundo, em termos musicais. Abriu-se a noite com um samba, dedicado ao “miopismo do empreendedorismo”. Gozou-se com Cavaco, com a situação do país, com todas as calamidades que nos assolam, com o segundo tema, em que se afirma que “tortura é viver”, a ser sobre as “dificuldades da vida”. É, segundo JP, uma música híbrida, “pop-rock-fado-gay-bi”.
O ritmo do samba até então deu lugar a um “tema romântico” para o qual JP pediu a nossa atenção. Sobre “marés e sobre amor e problemas que a gente se mete”, JP compôs a música que gosta, daí parecer “frágil”; porque, “quando se gosta, fica-se frágil. Há os espertos que não gostam de nada ou ninguém – mas assim também não têm nada”.
JP fica sozinho em palco, num registo mais conhecido. Fala de um antigo navegador portugues que saíu à procura de uma vida melhor até perceber que o problema não era da vida, mas era dele; canta uma “canção nova esquisitíssima”, o passageiro mágico, improvisa uma versão de Eleanor Rigby e, com a banda de regresso, regressa ao seu ‘Roma’ com uma versão mais solta de ‘La Strada’, com ‘O criador e a criatura’, uma música sobre a relação que existe entre o criador e a sua música; segue-se um momento de improviso da sua banda pois JP acabou mesmo por sair do palco para utilizar a WC, como tinha ameaçado fazer várias vezes. Quando regressou, voltou o samba, cantou-se em Francês, falou-se de polissexualidade, e terminou-se a noite, após um encore.
Esta foi uma noite diferente. JP intercalava as músicas com histórias, com piadas, com críticas. Rastejou pelo chão, em tom de brincadeira. Fez a plateia rir, e muitas vezes a música passava para 2º plano, tal era o entretenimento. Confessou-nos que tinha adormecido alucinado. Começou a noite a dizer-nos, no seu ‘Rio-me de Janeiro’, a dizer “bem vindo ao inferno, vem arder nesta caprichosa chama”; não estivemos no inferno, mas partilhámos, naquela noite, uma experiência igualmente intensa.
Texto e Fotos: Nuno do Carmo
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