Reportagem da 4ª edição do Vagos Open Air
Foi no passado fim de semana que a bela e pacata freguesia do Calvão, em Vagos, se vestiu de negro para receber mais uma edição do V.O.A.. O festival que recentemente foi distinguido com o prémio Vaga D’Ouro, trouxe gente de vários pontos da península Ibérica, para assistir a mais um cartaz de peso.
Dia 0
A recepção ao campista começou por volta das 23h00, com o Dj MrKool a aquecer os que até lá se instalavam perto do estádio do G.D.C., com uma setlist para todos os gostos a nível de música mais pesada. Nem o relvado sintético que havia sido instalado ao final da tarde junto ao “palco secundário”, resistiu ao entusiasmo dos presentes!
Dia 1
Os portugueses Disaffected abriram as hostilidades este ano, num concerto que talvez tenha ficado aquém das expectativas. A banda originária de Sintra, regressa aos palcos depois de um recesso de quase uma década, presentiando o público com o último álbum lançado em 2010 “Rebirth” e o primeiro álbum de originais “Vast”. Num entanto a adesão do público que ainda se ia estabelecendo gradualmenete no recinto, não foi a esperada.
A situação inverteu-se com a subida ao palco dos holandeses Northland. A banda de folk metal levou ao rubro os presentes, e o “moshpit” prolongou-se por todo o reportório apresentado, servindo de aquecimento para uma das bandas mais aguardadas pelos fãs de folk metal.
Por volta das 19h00 os suiços Eluveitie entraram em cena. Trouxeram consigo o seu último álbum de originais, apresentado pela primeira vez em solo nacional, “Helvetios”. “Meet the enemy”, “The uprising” e “Inis Mona”, do álbum “Slania”, marcaram os momentos mais altos de um concerto, que foi pequeno demais para os que o ansiavam.
O sol já se escondia no horizonte quando a banda de black metal progressivo Enslaved sobe ao palco. Os Enslaved pertencem à mesma vaga de bandas de black metal que tomou de assalto a cena Norueguesa de então, em conjunto com outros nomes como Mayhem, Burzum ou Satyricon. No entanto os Enslaved sempre se demarcaram das demais apresentando conceitos líricos com uma temática mais Viking, enveredando depois por uma sonoridade mais progressiva. Foi precisamente essa sonoridade mais progressiva que apresentaram em Vagos, tocando temas de vários álbuns como Isa, Ruun ou Below the Lights. Para surpresa de muitos, presentearam o público com uma versão da Immigrant Song da mítica banda rock Led Zeppelin.
Passavam das 22h30, quando os noruegueses Arcturus sobem ao palco. Foi a primeira vez que a banda pisou solo luso. As expectativas estavam bastante altas, ou não reunisse este projecto elementos de peso como Hellhammer e ICS Vortex. Infelizmente a sua atuação sofreu de vários problemas técnicos, o que acabou por defraudar um pouco as expectativas bastante elevadas por parte de vários fãs da banda. Ainda assim a banda de black metal avantgarde conseguiu arrancar vários sorrisos da plateia ao tocar temas como Shipwrecked Frontier Pioneer ou To Thou Who Dwellest In The Night. Fica-se a aguardar por um eventual regresso em nome próprio ao nosso país.
Os At The Gates foram a banda mais aguardada do dia. A banda que se estreou em solo nacional, leva um público que inicialmente se mostrava tímido a um moshpit que se tornou brutal. É de salientar a boa forma em que os membros se encontram, contagiando os que ainda sobreviam a aquele que tinha sido um primeiro dia de festival bem sucedido. Apresentaram uma setlist que abrangeu todos os álbuns da sua influente carreira e o público respondeu da melhor forma. Ambas as partes incansáveis desde o “Go!” de Tomas Lindbergh logo no início até aos acordes finais de Kingdom Gone tornando a sua actuação num concerto memorável.
Mas a noite de concertos ainda não tinha terminado e os sobreviventes de At the Gates queriam mais. Eis que entram em palco os Nasum, banda de grindcore sueca que tinha cessado atividades após o falecimento do seu elemento Mieszko Talarcyk em 2004. A banda tinha-se reunido neste ano com o intuito de celebrar os 20 anos da banda e prestar uma última homenagem a Mieszko e realmente fecharam o primeiro dia de Vagos Open Air 2012 da melhor forma, com um concerto avassalador.
Dia 2
Depois de uma noite longa, o sol raia nas tendas acordando os que haviam conseguido pregar olho. O cansaço era visível, mas era esperado um dia de peso.
Os algarvios Mindlock abrem o segundo dia, uma das duas bandas portuguesas presente nesta edição. Na bagagem, os 2 álbuns de originais da banda, que retratam as suas influências thrash, “Ego Trip” e “Enemy Of Silence”. O concerto foi bom e a banda mostrou grande energia em palco, num entanto eram poucos os que assistiam, muitos ainda recuperavam do dia anterior, escondendo-se do calor que se fazia sentir, e os que haviam chegado para o segundo dia ainda se estabeleciam.
De seguida, foi a vez dos Chthonic subirem ao palco. A banda oriunda de Taiwan estreou-se no Vagos e em terras lusas com o seu melódico black metal com laivos de avant-garde. Foram a primeira banda do género a conseguir carreira internacional no seu país, e para isso terá contribuindo a boa sonoridade com que também nos presentearam no festival. Sempre bem-humorados e a mostrarem admiração pelos hábitos ocidentais, como o de beber cerveja num dia de calor, apresentaram-nos faixas dos seus últimos álbuns, algumas tocadas com Erthu, um violino de duas cordas oriundo da china.
Os Textures subiram de seguida ao palco, mudando a sonoridade até então presente nesta edição do Vagos Open Air. A banda holandesa, já com 4 álbuns de estúdio lançados, presenteou a plateia com uma atuação mais técnica, porém com melodia quanto baste. É de facto este o ponto forte dos Textures, sendo capazes compor músicas que oscilam entre um thrash e um melodic death metal, sempre com um tecnicismo latente e uma orientação muito interessante para a melodia. O som no festival estava bem distribuido, contribuindo e muito para a ótima performance dos Textures, onde todos os pormenores das suas composições foram audíveis.
Tecnicismo é algo que também não faltou aos Coroner, banda da velha guarda proveniente da Suíça. Desde cedo que ficaram conhecidos pelo seu thrash metal com retoques mais progressivos angariando dessa forma muitos fãs nos passados anos 90. Tendo-se reunido recentemente para darem mais alguns espetáculos ao vivo, aliando ao fato de não terem estado em Portugal anteriormente, foi um grande incentivo a que esses mesmos fãs comparecessem no festival, e a prestação dos Coroner não saiu defraudada. Com um concerto irrepreensível, onde foram tocados vários temas ao longo da sua discografia, incluindo “The Invincible”, da sua demo “Death Cult” de 1986. Excelente prestação da banda, que nem parecia ter vindo de um longo hiato.
O thrash da velha guarda continuou com outro dos headliners desta edição do Vagos Open Air a subirem ao palco. Os Overkill são conhecidos pelos seus concertos repletos de energia e boa disposição e de facto foi isso que aconteceu. Bobby “Blitz” Ellsworth já com 53 anos parecia que ainda estava em plenos anos 80, tal era a sua energia contagiante em palco. Os Overkill, com uma carreira bastante prolífera ao longo de mais de 30 anos, tendo lançado 16 álbuns de estúdio e bastantes compilações e trabalhos ao vivo, apresentaram uma setlist vasta. Embora focada ligeiramente no seu mais recente álbum “The Electric Age”, houve espaço para serem ouvidos muitos dos hinos que os fãs aguardavam ouvir, como “Old School”, “Ellimination” ou “Rotten to the Core”, que foram sendo cantarolados pelos fãs muito após os concertos terminarem.
O frio já se fazia sentir, quando pouco depois da meia-noite os suecos Arch Enemy sobem ao palco, para aquele que seria o último e um dos mais esperados concertos desta edição. A abrir “Khaos Overture”, a intro do último álbum e que fez jus ao que ai vinha. Depois de “Yesterday Is Dead And Gone” do “Khaos Legions”, foram alternado entre o álbum de 2011, que estava a ser apresentado pela primeira vez em portugal, e faixas de álbuns anteriores. Uma das novidades foi também o novo guitarrista da banda, Nick Cordle, que vem substituir Christopher Amott. Êxitos como “Ravenous”, “Dead Eyes See No Future”, “We Will Rise”, “Nemesis” e “Fields Of Desolation” do album de 1996, “Black Earth” passaram pelo festival, onde não faltaram os solos do guitarrista e fundador Michael Amott. O público foi levado ao rubro pelas palavras de ordem da poderosíssima Angela Gossow, que durante quase 1h30 não parou em palco. Foi ainda de louvar a performance do baterista Daniel Erlandsson dado ter atuado com o pulso partido, não tendo sido notada nenhuma diferença a nível de qualidade.
E assim passou mais uma edição de um festival que se tem vindo a afirmar cada vez mais em solo nacional, tendo já atravessado fronteiras.
Mais fotos no nosso facebook: V.O.A. 2012 .
Texto: Ivo Leitão e Patrícia Jerónimo | Fotos: Patrícia Jerónimo
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