A Naifa, 12.04.12, Casa da Música
Os A Naifa são uma banda única. E muito portuguesa. Menos a cumprir horários: Pouco depois das 21h30, já as incursões fadísticas com laivos de pop-rock alternativa do quarteto de Lisboa ecoava pelas paredes da Casa da Música. Silêncio, que se vai tocar o futuro do fado.
Dia 12 de Abril de 2012 ficou bem marcado pelo regresso à Invicta daquela que é, talvez, a grande responsável pela aproximação da cultura urbana ao Fado, antes remetido como “música dos papás”. Seis anos volvidos, o reencontro dificilmente poderia ser melhor. Com a Sala 2 da Casa da Música literalmente a seus pés (as primeiras filas sentaram-se para degustar melhor o concerto), a banda percorreu de forma acutilante os temas dos seus quatro álbuns de originais, apresentando uma natural satisfação por dar a conhecer, pela primeira vez ao público portuense, os novos temas de “Não se deitam comigo corações obedientes”, onde também Margarida Vale de Gato se estreou como dadora de poesia aos famintos A Naifa. Adaptar poesia é mesmo palavra de ordem, já que como enfatizado por Luis Varatojo em entrevista à Engenharia Rádio, compôr é, no universo de A Naifa, sinónimo de transformar poemas em estado puro e independente em melodias, ritmos, palavras cantadas, quase como atribuindo um ponto de partida outrora inexistente, o da música. Num concerto de A Naifa, o mais importante é mesmo a interpretação e a simplicidade cénica: Sandra Baptista, sucessora de Aguardela na tarefa de sustentar as canções com linhas de baixo, está cada vez mais “cool” (aquele “cool” que faz lembrar Kim Gordon) e à vontade com os restantes membros; Samuel Palitos a cumprir mas, acima de tudo, a divertir-se, como se toda a vida tivesse tocado aquelas musicas; Luís Varatojo recluso duma cadeira só sua, alheio de destaque, numa espécie de autismo apenas comunicando através dos concentrados dedilhados da guitarra portuguesa, e claro, Mitó, sempre como a figura central das canções, presença distante mas calorosa, sofredora mas também sorridente, dotada de uma voz e sobretudo dum dom para a interpretação de poesia que arrepia, que chega à alma sem que a gente se aperceba.
O alinhamento percorreu todos os seus registos, tendo tocado de “Canções subterrâneas”: “Skipping” e “Música”; do segundo “3 Minutos antes da maré encher”: “A verdade apanha-se com enganos”, “Monotone” e “Señoritas”; do terceiro “Uma inocente inclinação para o mal”: “Filha de duas mães”, “Esta depressão que me anima”, “Dona de muitas casas”; por fim e do mais recente trabalho “Não se deitam comigo corações obedientes” : “De cara a la pared”, “Émulos”, “Talvez a injeção letal”, “Cat people”, “Gosto da cidade”, “Homenagem a 4 poetas e 1 cineasta” e “Aniversário”, além destes ainda tocaram “Libertação” de Amália Rodrigues em Homenagem a um dos seus fundadores, João Aguardela, fazendo com que este fosse o momento mais emotivo de todo o concerto.
Texto: Tiago Magalhães | Fotografia: Manuel Magalhães