Paredes de Coura 2010 – Dia 2: O dia em que o Rock regressou a Coura
Os espanhóis Nouvelle Cuisine abriram o palco Ibero Sounds. Vindos da Corunha, o indie rock não chegou para arrastar mais do que umas dezenas de festivaleiros, mais preocupados com a análise in loco das águas da praia do taboão. Não muita mais sorte tiveram os lisboetas Lost Park, que actuaram a seguir, mas para sensivelmente as mesmas pessoas.
Num final de tarde agradável, já com o calor a dar tréguas aos campistas, as Vivian Girls estrearam o palco principal apropriadamente trajadas. Com alguns assobios a ouvirem-se aqui e ali e um pequeno culto dedicado lá em baixo nas grades, as meninas deixaram um boa imagem, passando pelos seus dois longa-duração sem grandes oscilações, aquecendo os ânimos para o que estava para vir.
O que muita gente não sabe, é que o concerto que mais se hão-de arrepender de não ter visto em Paredes de Coura foi o de Eli Paperboy Reed. Uma das grandes surpresas deste festival, o norte-americano transportou Coura para a América de há meio século atrás. Acompanhado da sua banda, os True Loves, Paperboy contagiou todos os que o viram com a sua Soul e uma voz a lembrar os grandes cantores negros de Chicago. A ter em atenção este senhor, e o seu último álbum “Come & Get It”.
Ainda muita gente se dirigia ao recinto quando os Gallows entraram em palco. O punk-hardcore que trouxeram de terras britânicas arrebatou uma plateia ainda incompleta, mas que proporcionou os primeiros momentos de mosh em Coura. O seu último álbum “Grey Britain” foi determinante no alinhamento, mas “Orchestra of Wolves” também não foi esquecido. Já o espectáculo ia a meio quando Frank Carter, vocalista dos Gallows, instruí a pleateia a formar a maior moshpit já alguma vez vista em Coura. Não terá sido tanto mosh, como pessoal a andar á volta de um grande círculo, mas a intenção estava lá. Já quando Carter pede ao público para formar uma pirâmide humana, a intenção não terá sido tão bem sucedida. Mas ninguém se magou. “Orchestra of Wolves” fechou a actuação, onde algumas negras hão-de ter ficado, mas também a intensidade sonora que são os Gallows.
Conterrâneos dos Gallows, e bebendo da mesma inspiração que estes, os Enter Shikari acrescentam um lado electrónico à música vinda dos lados de Sua Majestade, além de uns quantos truques e acrobacias em palco. Depois de terem feito a primeira parte dos Prodigy no Pavilhão Atlântico, no final do ano passado, os Enter Shikari apresentaram em Paredes de Coura os seus dois longa-duração e deixaram o público sedento de mais visitas dos britânicos. Ainda o concerto ia no início e já o guitarrista estava no meio do público a surfar a multidão. Aliás, o espectáculo dos Enter Shikari é bastante prolífico em saltos para cima de dois níveis de colunas, guitarras e baixos a rodar em volta dos corpos e cambalhotas ao longo do palco. O público cá em baixo, mais fiel à banda, acompanhou-os em todos os temas, mas para o final “Juggernauts” também acordou o resto da gente pelo recinto acima.
Presença habitual no palco After-Hours, a electrónica chegou mais cedo nesta quinta-feira, com o canadiano Caribou a abanar o palco principal, já alguma gente tinha desistido ou andava a rondar o perímetro. A banda numa disposição muito compacta, com os elementos no centro do palco e uma projecção circular de vídeo atrás (as luzes em cima, nem vê-las!), Caribou apresentou grande parte do seu último registo “Swim”, lançado em Abril deste ano, e entreteu o público com as suas progressões sonoras.
We Have Band abriram o After-Hours, já passava das 2 da manhã. O trio disco-rock apresentou um som muito dançável e dinâmico, não deixando indiferentes os festivaleiros, ainda com Caribou na memória. Material retirado do álbum de estreia “WHB”, os temas iam sucedendo e a moldura humana ia-se tornando mais mexida, acompanhando a banda numa actuação de bom nível.
Inicialmente programados para o dia inaugural do festival, os Best Coast acabaram por tocar no final desta noite, animando o pessoal com o seu indie-pop californiano. O trio
apresentou um alinhamento baseado em “Crazy For You”, álbum de estreia editado há
precisamente três dias. Pelo meio, uma versão de “I Wanna Be Your Boyfriend” dos Ramones a pôr um sorriso em todos os (ainda) presentes.
DJ Coco fechou as hostilidades da noite, com um som muito rock, a agradar aos resistentes do after-hours. “Don’t Call Me White” dos NOFX e “Kool Thing” dos Sonic Youth ouviram-se no espaço que durou até às 6h do novo dia.
Reportagem: Ricardo Machado e Tiago Cavaleiro
Fotos: Hugo Lima
Fotografias: Hugo Lima
Fotografias: Engenharia Rádio